Checando o resultado planejado: a prática comprovando a teoria

José Vilela
Consultor Exagro
Gestor da Fazenda Rio Verde

Com o encerramento de mais uma estação chuvosa, chega o momento de olhar para os números e verificar a eficiência das atitudes que foram tomadas. Já falamos algumas vezes aqui no blog sobre a possibilidade de planejar a lotação de acordo com a oferta de forragem desejável, como nestas postagens:

https://pastocomciencia.com.br/2019/12/05/o-que-aprendemos-com-o-pasto-com-ciencia/

A fazenda Rio Verde, localizada em Comendador Gomes – MG, apresenta agora as previsões e os resultados obtidos de alguns módulos da propriedade.

Iremos iniciar apresentando os resultados da Safra 18/19, para permitir a comparação das estratégias e resultados. Na tabela abaixo, estão demonstrados os desempenhos alcançados.

Um grande aprendizado que trouxemos do último ciclo de pastejo foi a necessidade de roçar os módulos de Massai e Mombaça. Em 2019, eles entraram em estágio reprodutivo em março e comprometeram o ganho de peso e lotação.

Outro aprendizado que trouxemos para este ano foi a necessidade da identificação individual de 100% dos animais, para melhorar a avaliação de desempenho. Note que a análise do ano passado foi geral e não possibilita análise detalhada por pasto e faixa de peso.

Ex: Massai em abril de 2019 – Sementeado com qualidade nutricional reduzida

De posse destas duas melhorias no processo de engorda da Fazenda Rio Verde, iniciamos a safra de capim roçando os módulos de Massai e Mombaça e identificamos 100% dos animais individualmente.

Seguindo o critério de apartação de lotes a fazenda adotou a estratégia de separar os animais de 30 em 30 kg e mantê-los em lotes separados, devido à necessidade de ajuste de carga.

Aliado à postagem de apartação de lotes e os suportes médios de cada módulo da fazenda, levantamos a possibilidade de distribuir o rebanho da seguinte forma:

Até aqui, estamos na fase da teoria e do planejamento. Já definimos os pesos médios dos animais em cada módulo, as lotações de acordo com a oferta de forragem desejada e, portanto, tínhamos a quantidade de animais que poderia entrar em cada módulo.

Após a pesagem realizada no dia 31/10/2019, obtivemos a seguinte distribuição de animais por faixa de peso:

De acordo com a estimativa do que caberia em cada módulo de pastejo, iniciamos a distribuição preenchendo as cargas de cada módulo começando pelos animais mais pesados:

Após a fase de planejamento e definição de lotação inicial, passamos ao momento de realizar as atividades combinadas e checar os resultados. A seguir, temos algumas fotos para demonstrar as atividades e histórico das médias de altura de entrada e saída dos piquetes e a lotação média ocorrida durante o mês. As alturas foram coletadas através de aplicativo AgroHUB.

Módulo Massai

Data: 02/11/2019

Descrição: Roçada início estação chuvosa – Lição aprendida ano anterior.

Data: 23/12/2019

Descrição: Acúmulo de folhas durante estação chuvosa, manutenção altura dentro da recomendada (Link)

Data: 23/12/2019

Descrição: Oferta de folha para os animais.

Data: 23/01/2020

Descrição: Janeiro, boa oferta de folha de qualidade.

Data: 24/02/2020

Descrição: Final de fevereiro, ainda boa oferta de folha, sem soltar semente.

Mód Braquiária – Braquiária brizantha cv. Paiaguás

Data: 23/12/2019

Descrição: Animais apartados em 30kg – Início pastejo Mód Braq.

Data:23/12/2019

Descrição: Mudança de pasto – Repare no gradiente de cor (Saída / Entrada).

Data: 24/02/2020

Descrição: Ataque severo de cigarrinha no módulo de Braq (LIÇÃO APRENDIDA).

Data: 19/04/2020

Descrição: Após combate cigarrinha – Recuperação do vigor.

Data: 09/05/2020

Descrição: Manutenção de folhas ao final da safra. Boa oferta de folha para estação seca. Sem soltar semente.

Comportamento da altura de entrada e saída e taxas de lotação dos módulos da Faz. Rio Verde

Durante o período, além do acompanhamento de altura, foi realizado o acompanhamento de Massa de Forragem através do processamento de fotos de satélites e gerações de índices de biomassa.

Quando cruzamos as informações de lotação ocorrida e disponibilidade de forragem, chegamos nas seguintes curvas ocorridas de Oferta de Forragem:

Note que foi possível permanecer dentro da faixa desejável de Oferta de Forragem de 10 a 15% para a maioria dos módulos, com exceção do módulo do Mombaça, que não conseguiu acumular Massa de Forragem como planejado. Provavelmente, o pasto estava sendo impactado pela baixa Densidade e falhas na cobertura do solo, devido a problemas de plantio ocorridos em 2018.

Note uma queda na Oferta de Forragem nos módulos Estrada, Braq e Massai no mês de março. Isso ocorreu pela queda na quantidade de chuvas e subsequente comprometimento do crescimento forrageiro. Já o módulo do Mombaça não sofreu o mesmo impacto, pois houve redução da lotação após o embarque dos bois pesados.

A seguir estão os desempenhos ocorridos nos módulos avaliados:

Obs: A quantidade de animais avaliados é menor do que a quantidade empastada por ocasião de perdas dos brincos de identificação visual e de alguma possível retirada do lote para algum tratamento necessário.

Mesmo a safra 19/20 sendo pior em volume e distribuição de chuvas, note que houve um aumento de 0,12 kg/cab/dia ou 15% no desempenho individual no mesmo período em comparação ao ano anterior. Esse aumento está ligado ao melhor comprometimento e treinamento da equipe e melhor manutenção da qualidade forrageira ao longo do período. Além das medidas adotadas no início da safra referente as lições aprendidas do ano anterior.

Abaixo estão os resultados sumarizados obtidos no período:

De acordo com os resultados obtidos por essas análises, podemos dizer que a definição da lotação de acordo com as perspectivas de Produção de Forragem e Oferta de Forragem pode potencializar o aproveitamento das áreas. Menores Ofertas de Forragem não comprometem o ganho individual e potencializam o ganho por área.

Vale lembrar que o indicador que apresenta maior correlação com o resultado operacional é a quantidade de @’s produzidas por hectare. O correto ajuste da lotação irá favorecer maiores produções de @/ha sem aumento de custos na propriedade; logo, trará grandes possibilidades de aumento da lucratividade da propriedade.

Na nossa visão, foi cumprido o planejado e foram alcançadas boas produções individuais e por área. Note que saímos de um planejamento teórico de produção de forragem, ganho de peso, lotação e oferta de forragem, e acabamos, após 6 meses, bem próximos daquilo que foi inicialmente planejado. Além disso, a coleta e a análise destes dados trarão maior assertividade para definição das estratégias futuras a serem adotadas. É a união das forças entre teoria e prática.

Nossas maiores lições aprendidas e que manteremos como estratégia foram:

Ter estoque de inseticida para combate de cigarrinha no início do ciclo das águas
-Avaliar os desempenhos individuais, e se possível, com realizar uma pesagem no meio do ciclo das águas
-Roçar os Panicuns no início da estação chuvosa, essa ação, realmente favoreceu uma melhor qualidade e oferta forrageira
-As taxas de lotações utilizadas podem ser mantidas para o próximo ciclo das águas. Elas aumentaram a produção/ha e forneceu bom ganho individual.

Por meio dessas lições aprendidas, para a safra de 20/21, cogitamos em realizar algumas melhorias no nosso sistema de produção à pasto e aumentar mais nossa produção de @. Claro que ligado à uma análise de viabilidade. No caso, se houver uma boa relação de troca entre o valor da @, preço do adubo e disponibilidade de caixa da fazenda para a compra de animais, pensamos em adubar os módulos do Mombaça e Massai para aumentarmos o suporte desses pastos. Já estamos fazendo nossas contas para que dê certo!

Gostaríamos de agradecer a equipe que se empenhou para alcançar as metas propostas, José, Joaquim e Sr. Luiz.

Fique conosco nas próximas postagens! Até lá!

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