Recria de Machos ou Fêmeas: Qual a Melhor Escolha para a Sua Fazenda?

Por Marcus Vinícius Prado e Mario Garcia
Exagro Consultoria

A decisão de recriar e engordar machos ou fêmeas é uma das mais estratégicas para qualquer pecuarista, e a resposta, como veremos, não é tão simples quanto parece. Muitos buscam uma solução única, mas a verdade é que essa escolha depende de uma análise complexa que considera múltiplos fatores do seu sistema produtivo e do mercado.

Vamos desvendar os pontos chave que você precisa observar para tomar a decisão mais assertiva para o seu negócio:

  1. Valor de Compra e o Ágio do Bezerro

  • Preço de Compra: O bezerro macho é geralmente mais caro que a bezerra fêmea de mesmo peso. Por exemplo, um bezerro Nelore macho pode custar R$2.600, enquanto uma bezerra fêmea pode ser adquirida por cerca de R$2.000, uma diferença de R$500 a R$600 por cabeça.
  • O Ágio: O mercado paga um “ágio” no macho, que é o valor pago acima da arroba do boi gordo no mercado. Esse ágio está diretamente ligado ao potencial de desempenho do animal. Em média, o mercado paga 20% a 25% a mais no bezerro em relação à arroba do boi gordo, mas esse valor já chegou a 50% em momentos históricos (como em 2021).
  • Diluição do Ágio: O ágio pago na compra é diluído ao longo do tempo no desempenho do animal. Se você paga um ágio muito alto, é mais interessante comprar animais mais leves para ter mais tempo e ganho de arrobas para diluir esse custo. Comprar um animal mais pesado (como um garrote de 11-12 arrobas) com um ágio elevado restringe o tempo de diluição e pode comprometer a rentabilidade.
  1. Desempenho e Ganho de Peso

  • Vantagem do Macho: O bezerro macho (ou garrote) desempenha mais, ganhando mais peso que a fêmea. Isso se deve à presença de testosterona nos machos, que estimula uma maior produção de músculo (carne).
  • Fêmeas e Gordura: As fêmeas, por outro lado, possuem estrógeno e progesterona, que as levam a depositar mais gordura e atingir a maturidade sexual mais cedo ou com menor peso.
  • Conversão Alimentar: Machos também tendem a apresentar uma melhor conversão alimentar, o que significa que eles respondem melhor à suplementação e transformam alimento em peso de forma mais eficiente.
  • Atenção: Embora o macho ganhe mais peso, isso não garante que ele seja a melhor opção de negócio em todas as situações, pois a equação é mais complexa.
  1. Manejo Diário e Estrutura da Fazenda

  • Manejo das Fêmeas: As fêmeas são animais mais tranquilos para manejar.
  • Desafios com Machos: Os machos podem gerar problemas de hierarquia, sodomia e brigas, especialmente à medida que envelhecem. Misturas de lotes de machos podem levar à perda de peso.
  • Adequação à Estrutura:
    • Se sua fazenda não tem muitas divisões, cercas robustas ou uma equipe ampla e experiente, um sistema de recria e engorda de fêmeas pode ser mais compatível.
    • Já fazendas com boa estrutura (piquetes bem divididos, cercas de qualidade) e uma equipe capacitada podem manejar melhor os machos e aproveitar seu maior desempenho.
  1. Ciclo de Produção e Peso de Abate

  • Ciclo Mais Curto para Fêmeas: Enquanto os machos geralmente precisam atingir no mínimo 16-17 arrobas para o abate, as fêmeas podem ser abatidas com 12-13 arrobas, e até 14 arrobas com bonificação em algumas empresas. Isso resulta em um ciclo de engorda menor para as fêmeas.
  • Giro Mais Rápido: Para sistemas que buscam um giro mais rápido do capital e da pastagem, especialmente em sistemas a pasto exclusivo, as fêmeas podem se encaixar muito bem, encurtando o tempo de permanência do animal na fazenda.
  1. Rendimento de Carcaça e Qualidade da Carne

  • Rendimento Geral: O rendimento de carcaça varia, mas os machos geralmente têm um percentual ligeiramente maior (51-55%) do que as fêmeas (50-53%), dependendo da dieta e do tempo de cocho.

  • Nicho da Carne de Qualidade: As fêmeas, especialmente as de cruzamento industrial, podem ter um nicho de mercado para produção de carne de qualidade. Elas conseguem um acabamento mais precoce, com marmoreio e idade ideais em pesos menores, podendo até atingir valores de venda superiores aos machos dependendo do contrato e da demanda por carne de qualidade.
  • Menor Risco Operacional: A escolha por fêmeas para carne de qualidade também pode significar um menor risco para a operação como um todo.
  1.   Aspectos de Mercado e o Ciclo Pecuário

  • Oferta de Animais: Geralmente, há mais oferta de machos nos leilões e corretores. Isso ocorre porque muitas fazendas retêm as fêmeas para se tornarem matrizes em seu sistema produtivo.
  • Flexibilidade na Venda de Fêmeas: As fêmeas oferecem um leque maior de negociação. Além do abate, elas podem ser vendidas como matrizes gestantes, com preços atrativos, aproveitando a demanda por bezerros ou fêmeas prenhes no mercado.
  • Influência do Ciclo Pecuário: Todas essas variáveis – preço de compra, ágio, preço de venda, retenção de fêmeas – são fortemente influenciadas pelo ciclo pecuário (altas e baixas do preço do boi). Estar “antenado” a esse ciclo é fundamental, pois ele impacta diretamente suas decisões e não há um indicador exato para suas fases.

Conclusão: Conheça Seus Números!

Não há uma resposta única para qual categoria é a melhor. A escolha entre machos e fêmeas deve ser avaliada caso a caso, levando em conta o seu tipo de negócio, a estrutura da sua fazenda, o manejo que você pode oferecer, o momento do mercado e os seus objetivos.

O ponto mais crucial é ter os seus números na mão. Saiba o peso de compra, o ganho de peso diário esperado, o custo de produção, quantos dias o animal ficará na fazenda e qual o preço de venda projetado. Apenas com esses dados você poderá fazer uma análise de investimento e decidir qual categoria oferece o melhor arranjo produtivo e os melhores resultados para a sua realidade.

Se for testar novas estratégias, faça-o de forma criteriosa, coletando todos os dados para ter um histórico e subsidiar futuras decisões. Tanto machos quanto fêmeas podem ser viáveis, desde que o manejo e a operação sejam bem executados.

 

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