José Neto Vilela
Consultor Exagro
Com o retorno das chuvas, temos a quebra do déficit hídrico e, portanto, o retorno do crescimento vigoroso das plantas forrageiras. Entretanto, com isso vem a dúvida de como planejar os lotes, onde colocar cada grupo de animais e qual carga utilizar em cada módulo de pastejo.
Inicialmente devemos lembrar dos critérios de apartação de lotes, tema já discutido em nosso Blog.
Com os lotes apartados, podemos lançar mão do relatório de Utilização de Áreas do AgroHUB. Ele traz dados de lotação e altura, um indicativo para sabermos se devemos forçar mais ou menos os módulos de pastejo. Para exemplificar a utilização do histórico, vamos utilizar um caso real comparando os dados dos módulos de Andropogon e Braquiarão na safra 18/19 da Fazenda Ouro Branco, localizada em Montes Claros de Goiás, Goiás.
Note que, de outubro a dezembro, os pastos de Andropogon tiveram uma crescente diferença entre as alturas de entrada e saída; enquanto os pastos de Braquiarões tiveram essa diferença reduzida. Neste primeiro momento, podemos dizer que os pastos de Andropogon tiveram maior aproveitamento da forragem e maior estímulo à produção devido aos cortes mais eficientes do capim.
Em janeiro, tivemos um veranico que comprometeu a rebrota, causando uma queda na altura de entrada.
Note que, neste momento, houve uma transferência de carga dos pastos de Andropogon para os pastos de Braquiárias, com objetivo de reduzir a lotação diante da queda de produção ocorrida. Observe que, mesmo com uma carga de 1.400 kgPC/ha, os pastos de Andropogon tiveram a altura de saída mais alta que a altura de entrada. Ou seja, o capim cresceu mais do que os animais deram conta de cortar.
Neste momento, perdemos o controle do Andropogon e tivemos que colocar uma carga de quase 3.000 kgPC/ha em fevereiro para ajustar o manejo e voltar a controlar o pastejo de maneira eficiente. Já nos pastos de braquiária, em janeiro e fevereiro, com a carga média de 540 kgPC/ha, conseguimos controlar a altura de saída e manter boa colheita, embora ainda aquém do potencial, até porque ele entrou em estágio reprodutivo em março.
Abaixo temos o GMD dos animais abatidos de cada setor e algumas fotos demonstrando a evolução da qualidade forrageira de cada capim de janeiro e abril. Na opinião de vocês, qual teve melhor manejo, aproveitamento e produção de @ por hectare?
Repare o impacto do ajuste da lotação com objetivo de encaixar a Oferta de Forragem dentro da meta (entre 10 e 15%) no início da estação chuvosa.
Pela lotação e desempenho animal ocorrido, os pastos de Andropogon produziram, nos meses avaliados, algo em torno de 12@/ha; enquanto os pastos de braquiária produziram somente 4,6@/ha. Note o impacto positivo na produção (porque não chamar de receita/ha?) quando trabalhamos dentro do ponto ótimo da Oferta de Forragem. Além disso, temos a melhor manutenção da qualidade forrageira quando ajustamos a carga adequada para a produção da forragem.
De posse destas informações, a fazenda Ouro Branco já colocou como meta para a safra de capim que se inicia alguns objetivos:
→ Adiantar a compra de animais de reposição para set/out;
→ Iniciar novembro com lotação de 1.200 kgPC/ha nos pastos de Andropogon;
→ Iniciar dezembro com lotação de 550 kgPC/ha nos pastos de Braquiária;
→ Manter ganho de peso acima de 1,0 kg/cab/dia para todos animais abatidos a pasto;
→ Buscar lotações que consumam 50% da altura de entrada de cada piquete;
→ Encaixar a oferta de forragem dentro da meta de 10 a 15%.
Para fazendas que já possuem histórico de utilização de áreas, é possível fazer como a fazenda Ouro Branco e planejar a próxima safra com base nos dados obtidos das análises da safra anterior e buscas por melhorias. Isto é fazer gestão e aprender com os próprios erros.
A rotina de utilizar dados de processos já estabelecidos com o objetivo de correção e melhoria do processo é utilizar a famosa ferramenta da gestão conhecida como PDCA, já explicada em postagem disponível no site da Exagro Consultoria.
Para fazendas que não possuem histórico estruturado de informações, devemos basear em algum histórico existente do total de cabeças ou mesmo na experiência dos vaqueiros locais para dar suporte e direcionamento nas contas de estimativa do suporte que serão descritas a seguir.
Para isso é importante seguir os passos das últimas publicações que mostram o caminho de como estimar a quantidade de capim e determinar a oferta de forragem a ser oferecida aos animais.
Vale lembrar que a produção é variável de acordo com as condições climáticas e principalmente a qualidade do manejo. O fator climático que mais limita a produtividade das forrageiras tropicais é água. Para contornar essa situação via irrigação é preciso desembolsar altas quantidade de dinheiro por hectare. Já a melhoria no manejo do pastejo apresenta alto impacto na produtividade das pastagens e praticamente não tem custo para os produtores. Basta dar treinamento para uma equipe motivada e monitorar os principais indicadores que estamos trazendo neste Blog e a melhoria será visível no curto prazo!
Até a próxima postagem!
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