Escrito por:
Adilson Hélio Ferreira
Pedro Amorim Galdino Schettino de Castilho
O artigo de hoje será um relato de caso sobre a Fazenda Airis, localizada no município de Prado, na Bahia. Atualmente, a fazenda conta com 1.680 ha de pastagens e um rebanho de 1.800 animais, no sistema de recria e engorda a pasto.
A história da fazenda Airis é um caso de sucesso que precisa ser compartilhado, não só por sua expertise no manejo de pastagens, sua estratégia de suplementação ou modelo de governança, mas por ser um projeto iniciado do 0, desde a compra da propriedade em 2013 e início da consultoria Exagro. Além disso, a fazenda é parceira de vários outros projetos importantes, sendo uma das pioneiras em projetos como o PastoComCiência e o AgroHUB.
Neste relato, você vai saber como a fazenda, que iniciou o projeto com 2 pastos e 863 cabeças, hoje conta com 128 piquetes em pastejo rotacionado e 1.800 animais, superando adversidades, como a área de baixada de 702 hectares que alaga durante boa parte do ano e fica indisponível para pastejo dos animais.
(Área de baixada da fazenda, que alaga em parte do ano, com o aumento de volume do Rio Jucuruçu)
A história da fazenda Airis começou em 2013, com a compra da propriedade. No início do projeto, ela contava apenas com 2 divisões de pastos, sendo uma delas de 4 hectares, destinada aos cavalos, e a outra de 1.676ha, com 853 cabeças e tudo para planejar e empreender. Literalmente todo o projeto da fazenda estava por fazer: as pastagens eram degradadas e não havia divisões de pasto ou distribuição de água. Naquele ano, foi realizado o projeto para a propriedade, com as marcações de divisões de pastagens e distribuição de água existentes na fazenda atualmente.
O proprietário da fazenda, Alair, trabalha com uma máxima muito interessante: “Devemos fazer nossos projetos no papel mil vezes, para que, na milésima vez, possamos ser eficientes e cometer menos erros”. Com esse princípio, para a Exagro, que tem planejamento no DNA, era uma excepcional oportunidade.
Depois de muito trabalho e muitos rascunhos, com o projeto pronto, ainda havia muitos desafios e etapas a serem cumpridas ao longo dos anos, sendo tudo financiado pela própria produção da fazenda.
Com uma imagem do Google Earth, começaram os trabalhos. A fazenda é muito comprida, servida por uma única estrada, que chega ao curral velho e à casa.
Das instalações, projetou-se dois corredores, visando a logística dos animais e o deslocamento de máquinas. Dos corredores, foram projetados os futuros módulos de engorda e recria. A engorda foi posicionada mais próxima do curral e da futura fábrica de suplementos. A recria, mais distante. Isso, no futuro, minimizaria os dispêndios com deslocamento de máquinas necessários à distribuição de suplementos.
(Foto do software AgroHUB, com as divisões de pastos e a distribuição dos lotes na fazenda)
Com os módulos da parte alta projetados, o passo seguinte foi a avaliação das pastagens, quantificando área efetiva e coletando amostras de solo e, a partir disso, definir como realizar os investimentos no maior patrimônio atual da fazenda Airis: as pastagens.
Após o diagnóstico, ficou clara a necessidade de reforma de 200 hectares de pasto degradado. Foi adotada a estratégia de plantio de milho consorciado com capim (sistema Santa Fé), com o objetivo de reduzir custos finais da formação e garantir insumos para a terminação dos animais da fazenda. Com ele, foi possível colher milho destinado à fábrica de suplementos e estabelecer 10 módulos de 20 hectares, com 4 piquetes em cada, para atender a engorda propriamente dita e os bezerros recém comprados. Na Airis, os bois em engorda ficam perto dos olhos e os bezerros recém-chegados, categoria muito vulnerável, também.
No restante da fazenda, a recuperação das pastagens se deu com roçadas sistemáticas, aplicações de herbicida, além da própria divisão dos módulos e o bom manejo dos pastos. Com isso, a fazenda aumentou, gradativamente, a sua capacidade de suporte e seu potencial produtivo, gerando recursos para a manutenção dos investimentos estruturais necessários, como a construção de poço artesiano e reservatórios para a distribuição de água de qualidade em todos os módulos.
Com muito esforço, em 2 anos de projeto, a fazenda aumentou o seu rebanho em cerca de 70%! Com investimentos planejados e constantes, a estrutura projetada anos antes foi implantada e, hoje, otimiza os manejos de dia a dia, sendo um dos pontos fortes da propriedade.
Durante todo esse processo, as pessoas tiveram papel fundamental. A mão de obra é tida como um dos pontos de maior dificuldade nas fazendas pelo Brasil. Na Airis, as dificuldades também existiram, mas foram superadas com honestidade, capacitação e espírito colaborativo. Atualmente, a fazenda conta com 4 colaboradores, que conhecem os processos, suas responsabilidades e como executá-las para garantir o plano da fazenda: engordar boi.
Ao longo dos anos, o aprendizado na fazenda fluiu em todas as direções, por todos os envolvidos e, silenciosamente, o legado da fazenda Airis foi sendo construído. O próprio sócio da fazenda iniciou a sua trajetória como aprendiz, até que, no 5º ano, o bastão lhe foi transferido para que ele fosse o gestor do negócio. A paixão e o zelo pela recria e engorda de bois, com foco no resultado financeiro, foram transmitidas por mais de uma geração e esse segue sendo o objetivo para os próximos anos, mesmo que ainda na fase de levar as crianças para andar de cavalo e tocar o gado na fazenda.
Até o próximo post!
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