A ESCOLHA DA SUPLEMENTAÇÃO ANIMAL NO PERÍODO SECO

Bárbara Andrade
Estudante de zootecnia – UFVJM em Diamantina
Estagiária EXAGRO

A suplementação na seca é uma prática fundamental para garantir o desempenho adequado dos bovinos de corte durante esse período crítico do ano. A seca é caracterizada pela escassez de pastagens e pela redução da qualidade nutricional das forragens disponíveis, o que pode resultar em desafios significativos para o crescimento e o desenvolvimento do gado.

Os bovinos são animais ruminantes e dependem de uma dieta balanceada para atender às suas necessidades nutricionais, especialmente durante a seca. A falta de forragem verde e a baixa disponibilidade de água podem levar a deficiências nutricionais, perda de peso, redução da produção de carne e, em casos extremos, a mortalidade.

Para enfrentar esses desafios, pecuaristas têm adotado práticas de suplementação que consistem em fornecer alimentos complementares para garantir o desempenho dos animais no período crítico. Esses suplementos podem ser produzidos em forma de ração concentrada, utilizando ingredientes como farelo de soja, grãos, fenos de boa qualidade ou subprodutos agroindustriais, visando melhorar o equilíbrio nutricional e a manutenção da condição corporal do rebanho.

Como já explicado para vocês no post:  Suplementação a pasto e seu monitoramento aqui do pasto com ciência, existem diferentes tipos de suplementação a pasto, cada um com seus objetivos e formas de consumo. Caso deseje aprofundar nos tipos de suplemento, leia este post:

Suplementação a pasto e seu monitoramento

Mais especificamente no período seco, os tipos de produtos mais utilizados são:

Proteinado: a suplementação proteica é utilizada para suprir a carência de proteínas de qualidade na alimentação dos bovinos, principalmente durante a seca ou em pastagens de baixa qualidade. Essa suplementação geralmente tem seus teores de proteína acima de 20%. Os suplementos proteicos podem ser fornecidos na forma de farelos (como farelo de soja, farelo de algodão), tortas (como torta de algodão, torta de girassol) ou grãos de leguminosas (como o grão de soja). Esses alimentos podem ser misturados com outros ingredientes ou fornecidos individualmente, visando aumentar a oferta proteica na dieta dos animais. O consumo varia, ficando entre 1 e 3g de suplemento por kg do animal, ou seja, 100 a 300g/dia para cada 100 kg de PV.

Ureado: neste tipo de produto, verificamos a presença de nitrogênio não proteico (ureia), que serve como “alimento” para a microbiota ruminal, que irá decompor a forragem seca ingerida pelos animais. Seu custo, quando comparado ao suplemento proteinado, é mais em conta, já que a ureia é mais barata que os ingredientes proteicos que comumente são utilizados na suplementação proteica. Entretanto, por não fornecer proteína de maneira direta, existe uma diferença de valor nutricional entre a proteína alimentar (soja, algodão, entre outros) e a proteína produzida no rúmen a partir da ureia. Além disso, a ureia é tóxica em grandes quantidades. O mais usual é uma combinação destas duas fontes de proteína em um mesmo suplemento para garantir bom custo-benefício.

Proteico energético: é mais indicado para a fase de recria e engorda, podendo ser fornecido apenas na época seca ou durante toda a vida do animal. São produtos que, além da inclusão do macro e micro minerais, contêm proteína e energia para auxiliar no desempenho produtivo. Esses suplementos normalmente são fornecidos entre 0,2 e 0,4% do peso corporal do animal, dependendo do ciclo de produção, podendo alcançar o consumo de até 1% do peso corporal. Por terem consumos mais altos e ingredientes proteico-energéticos, existe um impacto no custo do produto, além da maior necessidade operacional, por se fazer necessário o fornecimento diário do produto. Este tipo de produto deve ter seu uso bem avaliado sob a ótica do retorno financeiro em cada propriedade.

Ração: em situações em que se almeja maior desempenho do animal, é utilizada a suplementação concentrada. Essa suplementação é mais comumente usada quando se pretende alcançar algumas melhorias adicionais produtivas, como aumento da taxa de lotação, produção por área, engorda e acabamento das carcaças dos animais.  O consumo é superior a 1% do peso corporal dos animais, com fornecimento diário e tem como objetivo a alta inclusão de energia na dieta para permitir o acúmulo de gordura na carcaça do animal.

Silagem de grãos ou feno: podem ser adotados em situações que demandam a inclusão de fontes de fibra na dieta dos animais. A escolha da silagem ou feno para suplementação durante o período seco depende de vários fatores, incluindo disponibilidade, qualidade, custo e necessidades específicas do rebanho.

A escolha da suplementação animal no período seco deve levar em consideração diversos fatores, incluindo preço, consumo e eficácia. Aqui estão 10 diretrizes gerais para ajudar a fazer uma escolha informada:

  1. Avalie as necessidades nutricionais dos animais: antes de iniciar qualquer suplementação, é fundamental conhecer as necessidades nutricionais do rebanho e o desempenho esperado para a categoria em questão;
  2. Escolha do tipo de suplemento: existem diversos tipos de suplementos disponíveis, como proteicos, energéticos, minerais e vitamínicos. A escolha do tipo de suplemento dependerá das carências nutricionais identificadas na dieta dos animais;
  3. Análise de custo-benefício: considere o custo dos suplementos em relação aos benefícios esperados. O preço deve ser avaliado em relação à melhoria na saúde e desempenho do animal;
  4. Consumo esperado: analise a taxa de consumo esperada do suplemento. Alguns suplementos podem ser mais palatáveis e ter um consumo mais consistente. Certifique-se de escolher um suplemento que os animais vão consumir de forma adequada para obter os benefícios desejados;
  5. Composição nutricional: verifique as informações nutricionais dos suplementos. Certifique-se de que eles forneçam os nutrientes essenciais necessários durante o período seco, como proteína, energia, minerais e vitaminas;
  6. Histórico de resultados: pesquise ou pergunte a outros produtores sobre suas experiências com diferentes suplementos no período seco. Os resultados anteriores podem fornecer insights valiosos sobre a eficácia dos produtos;
  7. Compatibilidade com o sistema de produção: certifique-se de que a suplementação escolhida seja compatível com o seu sistema de produção, incluindo a forma como você administra a alimentação e o manejo dos animais;
  8. Estrutura: certifique que a fazenda tem toda estrutura operacional para fornecer os suplementos na quantidade programada de forma constante. Isso garante o sucesso do resultado e o desempenho animal;
  9. Monitoramento do consumo: é importante monitorar o consumo dos suplementos para garantir que os animais estejam recebendo a quantidade adequada de nutrientes. Se o consumo estiver abaixo ou acima do esperado, pode ser necessário ajustar o fornecimento ou trocar o tipo de suplemento;
  10. Água limpa e fresca: em todas as situações, é fundamental garantir o acesso constante à água limpa e fresca para os animais. A hidratação adequada é crucial para o bom funcionamento do trato digestivo e para a saúde geral dos bovinos.

Lembre-se sempre que a suplementação alimentar não deve ser vista como uma solução definitiva, mas sim como uma ferramenta para auxiliar na manutenção da saúde e produtividade dos animais durante épocas de escassez de forragem. Além disso, é essencial buscar práticas de manejo sustentáveis para preservar a qualidade das pastagens e garantir a segurança alimentar do rebanho a longo prazo.

Esperamos que tenham gostado do conteúdo, nos vemos na próxima postagem!

REFERÊNCIAS:

RIBEIRO, Manuel Felipe Farias Costa. Suplementação alimentar de bovinos de corte a pasto visando a produção intensiva. 2021

CEZAR, Ivo Martins et al. Sistemas de produção de gado de corte no Brasil: uma descrição com ênfase no regime alimentar e no abate. Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 2005., 2005.Parte superior do formulário

 

GOMES, R. da C. et al. Estratégias alimentares para gado de corte: suplementação a pasto, semiconfinamento e confinamento. 2015.

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