Controle de Pragas na Pastagem: Planejamento e Gestão para Evitar Prejuízos na Época das Águas

Com a chegada das chuvas, um período que traz as condições ideais (temperatura, luminosidade e umidade) para o crescimento vigoroso das gramíneas, também se torna o momento mais propício para o desenvolvimento e reprodução de pragas nas pastagens.

A gestão eficiente das fazendas agropecuárias exige atenção a esses fatores, pois a infestação de insetos pode causar prejuízos significativos, estimados em média em 30% da produção e produtividade, podendo levar à perda total da produção ou até mesmo à morte da gramínea. Por isso, o foco agora é desenvolver um olhar atento e implementar processos de gestão para o controle.

O objetivo deste artigo é fornecer uma visão global de pontos básicos a serem observados e como iniciar o monitoramento, sem a pretensão de abordar detalhes de bases químicas ou metodologias de controle específicas, que devem ser procuradas regionalmente e com o auxílio de um profissional habilitado.

As Principais Pragas e Seus Sinais de Alerta

Conhecer o inimigo é o primeiro passo para o controle. A grande maioria dos insetos encontrados na fazenda (mais de 95%) faz parte da flora normal, mas alguns se tornam pragas quando ocorre um descontrole momentâneo.

  1. Cigarrinhas das pastagens

A cigarrinha é uma das pragas mais comuns e destrutivas.

  • Ciclo e Época de Ataque: Os ovos da cigarrinha sobrevivem ao período seco e eclodem após as primeiras chuvas. Os primeiros adultos surgem em aproximadamente um mês. O ciclo é relativamente curto (20 a 25 dias) e novas gerações se formam rapidamente.
  • Identificação Visual: Além de observar os insetos alados (com asas pretas) voando, a infestação se manifesta através de áreas mortas de capim, que parecem ressecadas como se estivessem na seca, mesmo durante o período das águas.
  • O Ponto Chave: A identificação mais importante ocorre na base das touceiras, onde a espuma abriga as ninfas. Essas ninfas sugam a seiva e aplicam toxina, causando o ressecamento das folhas.

Atenção ao Monitoramento:

É crucial começar a monitorar 10 a 15 dias após o início das chuvas, antes que os primeiros adultos apareçam (o que acontece por volta de 25 a 30 dias de chuva). A espuma serve como proteção para a ninfa, dificultando a chegada de produtos de controle.

  • Protocolo de Controle (Exemplo): Em áreas homogêneas de capim, pode-se realizar a contagem de ninfas a cada duas semanas em 10 pontos de avaliação. A aplicação de controle biológico (uso do fungo Metarhizium) é indicada para infestações menores (entre 6 e 25 ninfas por m²), enquanto o controle químico é reservado para infestações maiores.
  1. Formigas

As formigas possuem um enorme poder de destruição. Seus formigueiros podem atingir grandes dimensões (até 8 m de profundidade) e ter saídas (olheiros) a 50 ou 100 m de distância do centro.

  • Atenção na Formação de Pastagem: É essencial o controle prévio de formigas durante a formação ou reforma da pastagem. As plântulas recém-germinadas são muito pequenas e são cortadas e levadas pelas formigas, resultando em falhas de formação que persistirão por muito tempo.
  1. Lagartas

Diferente das cigarrinhas, o que causa estrago nas pastagens é a fase larvar (lagartas), não a fase alada (mariposas). Os ataques de lagartas são, na maioria das vezes, mais localizados.

  • Controle Precoce: O inseticida é mais eficaz na fase inicial, quando a lagarta é muito pequena e apenas arranha a folha, sem cortá-la. Combater no início é mais barato e evita prejuízos maiores.
  • Sinais de Ataque: Ficar atento às ranhuras nas folhas, ou a larvas que caem ao encostar na touceira.
  1. Percevejo Castanho

Conhecido pelo mau cheiro, o percevejo castanho vem à superfície após o período das chuvas, quando seu habitat subterrâneo (pode viver a 2 ou 3 m de profundidade) é inundado.

  • Dificuldade de Controle: Esta é uma praga de difícil controle. A aplicação de produtos químicos em profundidade é cara, de alto custo e pode desequilibrar o ecossistema do solo.
  • Estratégia de Gestão: O consenso é que o caminho mais eficaz é focar em boas correções e adubação do solo para que a planta tenha vigor e resistência. Cuidar bem da pastagem permite que ela suporte e conviva melhor com possíveis ataques do percevejo.

A Importância da Gestão: Monitorar e Combater no Início

O segredo para minimizar perdas está no planejamento e na ação em tempo hábil.

  1. Inspeção Visual Regular: Mantenha uma inspeção visual regular e comunique toda a equipe da fazenda sobre a diversidade de problemas e a necessidade de observar.
  2. Registro e Localização: Registre os sintomas e a localização das pragas, focando nos locais de postura onde o problema costuma começar.
  3. Ação Imediata: A aplicação de medidas de controle (químico ou biológico) deve ser feita logo no início da infestação. Quanto mais cedo o combate, mais eficaz e barato será o tratamento.
  4. Acompanhamento: Após o controle, avalie a evolução da infestação e o resultado esperado. Tecnologias complementares, como o uso de drones, podem auxiliar na identificação de outras manchas de problemas.
  5. Estoque Estratégico: Mantenha em estoque produtos para pragas que ocorrem com frequência em sua região. Um estoque planejado faz toda a diferença para que o controle chegue na hora certa e evite grandes perdas de desempenho.

Não hesite em combater! A atenção e o combate no momento certo minimizam as perdas na produção de capim e, consequentemente, na produção de carne, leite ou bezerro. Assim como um médico monitora os sinais vitais, o produtor precisa monitorar constantemente o “estado de saúde” da sua pastagem para garantir que o investimento feito no plantio e manejo não seja “comido” pelas pragas.

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