Diego de la Reza
Estagiário Exagro
A bovinocultura de corte no Brasil é majoritariamente conduzida a pasto, sendo esse o principal recurso para a produção da arroba. Segundo a ABIEC (2018), cerca de 87% das fases de cria, recria e engorda ocorrem sob pastejo, tornando essencial a manutenção e renovação das pastagens para sustentar a produtividade e a rentabilidade da atividade pecuária.
Atualmente, cerca de 60% das pastagens brasileiras apresentam algum grau de degradação, o que reduz sua capacidade de suporte em até 80% nos casos mais severos (Dias-Filho, 2011). No Mato Grosso do Sul, por exemplo, metade dos 28,2 milhões de hectares de pastagens já sofre com esse problema (Embrapa Gado de Corte).
Diante da alta nos custos de produção e das margens de lucro estreitas da pecuária, a recuperação das pastagens deve ser planejada com critério. Estudos, como o de Neto Silva et al. (2018), indicam que a recuperação via calagem e adubação superficial sem incorporação pode aumentar a capacidade de suporte e o ganho de peso animal mais eficientemente do que outros métodos, como subsolagem ou plantio de culturas temporárias.
No entanto, cada propriedade tem suas particularidades. Embora a literatura ofereça diretrizes importantes, o diagnóstico específico de cada área é indispensável.
A Fazenda São Domingos, apresenta solos arenosos de baixa fertilidade e alta acidez, com teores de areia próximos a 90%, dificultando a manutenção de suas pastagens pelo alto aparecimento e rusticidade de plantas daninhas de porte arbustivo. O banco de sementes junto com a baixa fertilidade do solo torna a fazenda altamente suscetível ao desenvolvimento de plantas daninhas. A precipitação pluviométrica média da fazenda nos últimos 9 anos foi de aproximadamente 1.635mm anuais, em media, com período seco marcado de abril a setembro.
Hoje a fazenda trabalha exclusivamente sobre o sistema de cria, com uma capacidade de suporte média de 390 kg de peso vivo/ha, produzindo 3,67 @/ha/ano e 4,14 @/cab/ano.
A Fazenda São Domingos pode ser vista como uma fazenda experimental em recuperação de pastagens, pois ao longo dos últimos anos, a equipe realizou diversos métodos de recuperação na tentativa de encontrar a melhor solução, buscando o melhor resultado custo/benefício em relação ao custo das operações e insumos no aumento da capacidade de suporte, com o objetivo de aumentar a produtividade e consequentemente o resultado operacional ao longo dos anos.
Os pastos da fazenda apresentavam degradações de nível forte e muito forte, na sua maioria, com áreas de plantas daninhas de porte arbustivo e lenhosas, grandes áreas de solo descoberto e baixo vigor das forrageiras. É importante ressaltar que as cultivares implantadas na fazenda são consideradas resistentes a solos arenosos de baixa fertilidade; Brachiaria Humidicola e Brachiaria Decumbens. Nessa situação, a fazenda iniciou a recuperação de pastagens por método convencional e posteriormente por método de plantio de Crotalária Juncea, para finalizar com o método de recuperação por subsolador de facas horizontais (mata broto).
- Reforma convencional (2018, 2020 e 2021)
Nos anos 2018, 2020 e 2021, o método de reforma de pastagens utilizado foi o convencional. O método convencional utiliza insumos como calcário, adubação fosfatada, herbicidas como 2-4 D, adubação nitrogenada (ureia) e sementes de uma ou mais espécies. Já para as operações, a reforma por método convencional utiliza uma operação para aplicação de calcário, duas operações de gradagem, plantio das sementes e pulverizações de inseticidas e/ou fertilizantes. O custo operacional para o método convencional é elevado pela necessidade de serem realizadas três operações mecânicas; uma calagem e duas gradagens (uma pesada e uma niveladora). O custo dessa reforma ficou entre R$ 3.000,00 e R$ 4.200,00 por hectare.
- Crotalária Juncea (2019)
No ano 2019, a fazenda optou por experimentar o método de reforma de pastagens por implantação de Crotalária Juncea. O método é interessante, uma vez que a leguminosa agrega valor nutricional ao solo e melhora seu perfil. A crotalária é uma espécie com sistema radicular agressivo de crescimento pivotante, podendo aumentar a macroporosidade do solo e a competição com espécies invasoras. Além do beneficio físico, a crotalária pode fixar nitrogênio atmosférico ao solo devido à sua associação com bactérias fixadoras do gênero Rhizobium. A fixação de nitrogênio ao solo posteriormente beneficia o crescimento e desenvolvimento da forrageira a ser plantada. Sabe-se que o nitrogênio é um elemento químico essencial para o perfilhamento, vigor e desenvolvimento de plantas forrageiras de clima tropical.
O método de reforma de pastagens por prévio plantio de Crotalária não teve grande continuidade na fazenda. Os resultados do método na cobertura do solo, vigor da forrageira e aparecimento de plantas daninhas foram muito positivos. Porém, o custo da técnica foi parecido ao convencional e, além disso, o sistema deve esperar ao desenvolvimento da Crotalária e ao cumprimento do seu ciclo (170 – 180 dias) para posteriormente plantar a forrageira e poder observar os benefícios que esta cultura traz para o sistema produtivo. Não se desconsidera a utilização de Crotalária Juncea ou outras leguminosas para reforma e/ou renovação de pastagens, essa pode ser uma técnica interessante para diferentes sistemas de produção e deve ser avaliada para cada situação.
- Subsolador de facas horizontais
No ano 2021 a fazenda fez um primeiro teste de reforma de pastagens com a utilização de um subsolador de facas horizontais conhecido como “mata-broto”, com a finalidade de cortar às camadas mais profundas do solo para realizar o corte mecânico das raízes rizomatosas das plantas invasoras. Na fazenda e região, predominam as plantas invasoras; Araticum-miúdo (Duguetia Furfuracea) e Ciganinha (Memora Peregrina), quando falamos sobre sistemas radiculares rizomatosos e pseudorizomatosos. O implemento corta o sistema radicular e movimenta o solo, matando as espécies invasoras e, ao mesmo tempo, realizando uma descompactação das camadas agriculturáveis do solo (0 – 40cm). A técnica do subsolador tem maior eficiência na época das águas pela facilidade de penetração ao solo e pela recuperação no crescimento da forrageira.
No ano 2021 a primeira tentativa de reforma pelo método do implemento de facas horizontais demostrou uma redução no custeio de aproximadamente 18% quando comparada à reforma de pastagens pelo método convencional, mesmo utilizando uma gradagem além do subsolador. Já no ano 2022 a fazenda conseguiu diminuir o custo do ano anterior em até 400 R$/ha. A diferença foi gritante, pois a retirada da operação de gradagem do método de reforma diminuiu o custo consideravelmente, trazendo excelentes resultados produtivos.
No ano 2023 houve outra grande redução no custeio total por hectare. A diferença em comparação com o ano 2022 deveu-se principalmente à não necessidade do plantio da forrageira. O método é eficiente sem necessidade de plantio em situações onde o capim apresenta pelo menos 75% AEE. Em áreas muito degradadas, a fazenda realiza a semeadura de sementes a lanço, aumentando o custo do método razoavelmente, porém, sem comparação nenhuma ao custeio das outras reformas utilizadas. A recomendação de plantio de sementes é feita quando a área efetivamente empastada (AEE) é menor a 75%.

Para finalizar, conclui-se que nesta fazenda, a implementação do ultimo método de reforma de pastagens foi um grande sucesso, do ponto de vista econômico até o produtivo. Ajustando o método de reforma convencional do ano 2018 para IPCA, o custo por hectare (2024) do método seria R$ 4.196,89, já o custo de reforma médio do método de reforma por subsolador de facas horizontais é aproximadamente R$ 512 por hectare, mostrando uma redução no custeio de -3.684,89 R$/ha ajustado para IPCA.
A recomendação de reforma de pastagens por subsolador de facas horizontais deve ser precedida de um diagnóstico detalhado do sistema produtivo, pois diferentes fatores, como propriedades do solo, espécies invasoras, umidade, degradação e objetivos produtivos, podem afetar a eficiência do método. No entanto, observa-se que o uso de um implemento mecânico pode reduzir o número de operações e insumos necessários para a reforma, diminuindo custos por hectare e aumentando a produtividade. Considerando que muitas pastagens no Brasil estão degradadas, é fundamental divulgar métodos bem-sucedidos de recuperação e promover experimentações constantes, visando melhorar a capacidade de suporte das pastagens com custos menores, contribuir ao desenvolvimento produtivo/financeiro da pecuária de corte.
Até a próxima postagem!
- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNES. Perfil da pecuária no Brasil: relatório anual 2018.
- DIAS-FILHO, M. B. (2011). Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias de recuperação. 4. ed. rev. atual. e ampl. Belém, PA: 215 p.
- SILVA, J. A. N., SILVA, C. J., ALMEIDA, R. G. de, & HONORATO, C. A. (2018). Desempenho de novilho nelore em pastagem degradada submetida a diferentes processos de recuperação e renovação. Revista Agrarian, 11(41), 260-266. Dourados. Disponivel em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/188331/1/ID-36738.pdf. Acesso em 22/11/2024.
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