Marcus Prado
Consultor Exagro
A pecuária brasileira, especialmente a baseada em sistemas de pastagens, depende fundamentalmente da oferta de forragem, que é o pilar da nutrição animal. No entanto, a eficiência no uso dessa oferta está diretamente ligada à forma como ela é manejada e integrada aos diferentes sistemas de produção no país. Entender o conceito de oferta de forragem, sua mensuração e o papel nos sistemas produtivos são essenciais para maximizar a produtividade.
A oferta de forragem refere-se à quantidade de massa de forragem disponível em uma área de pastagem, medida em relação ao número de animais que irão consumi-la. Em outras palavras, é a relação entre o volume de forragem disponível e a demanda de consumo do rebanho. Essa relação é geralmente expressa em termos de quilos de matéria seca disponível por unidade de peso corporal do animal por dia (kg MS/100 kg PC/dia).
OFERTA DE FORRAGEM: COMO CALCULAR E SEU IMPACTO NO DESEMPENHO
Essa métrica é fundamental para equilibrar o manejo do pasto, pois determina se os animais possuem forragem em quantidade suficiente para obter seu desempenho e se as pastagens estão sendo usadas de maneira adequadas sem super ou subpastejo.
O Brasil é um país continental, com sistemas de produção pecuária que variam conforme as condições climáticas, o tipo de solo e os objetivos econômicos dos produtores. A seguir, exploramos como a oferta de forragem se associa a diferentes sistemas produtivos:
- Sistemas Extensivos: Maior dependência do pasto
Nos sistemas extensivos, a produção animal é predominantemente dependente de pasto. O pastejo normalmente é realizado em largas áreas, podendo ser de pastagem formadas ou nativa, e esse modelo pode ser encontrado em diversos biomas brasileiros. A oferta de forragem é diretamente influenciada pelas condições naturais do ambiente, o que exige um manejo cuidadoso para evitar a degradação das pastagens. Recomenda-se o uso de altas ofertas de forragem para preservar a forragem e garantir a sustentabilidade do sistema a longo prazo.
Neste contexto, a gestão da oferta de forragem é fundamental para garantir a sustentabilidade dos sistemas extensivos e envolve três práticas principais. A baixa pressão de pastejo é indispensável para evitar a degradação das pastagens, permitindo sua recuperação natural e promovendo maior longevidade das áreas de pastejo. Além disso, o alívio de lotação entre o período das águas e a seca, por meio do ajuste da carga animal, é essencial para equilibrar a disponibilidade de forragem nos momentos de menor crescimento das plantas. Por fim, a suplementação estratégica desempenha um papel crucial ao assegurar o desempenho dos animais em períodos críticos, compensando a menor oferta de nutrientes no pasto.
- Sistemas Semi-Intensivos: Equilibrando Quantidade e Qualidade
Em sistemas semi-intensivos, a oferta de forragem é manejada de forma mais controlada, com o uso de pastagens cultivadas associado a práticas como adubação, manejo rotacionado e suplementação estratégica. Esse manejo permite maior eficiência no uso do solo e na alimentação do rebanho, possibilitando o uso de menores ofertas de forragem, já que há mais atenção ao manejo do pasto e ao desempenho dos animais.
Nesse contexto, o manejo da oferta de forragem é ajustado para garantir que a biomassa disponível seja suficiente para atender às exigências nutricionais dos animais, permitindo também que as pastagens tenham tempo para se recuperar entre os períodos de pastejo, o que evita a degradação. Além disso, a inclusão de suplementação proteica ou energética é essencial para maximizar o ganho de peso do rebanho, acelerando o desempenho dos animais.
A suplementação estratégica desempenha um papel fundamental nesses sistemas, pois permite maior flexibilidade no planejamento alimentar, aliviando as lotações das pastagens nos momentos de menor produção de forragem. Com esse enfoque, é possível melhorar a produtividade, reduzir riscos durante períodos críticos e otimizar o uso dos recursos disponíveis.
- Sistemas Intensivos: Alta Produção em Áreas Reduzidas
Nos sistemas intensivos, que incluem sistemas de pastejo rotacionados de alta lotação, pastagens adubadas e integração lavoura-pecuária (ILP), a oferta de forragem deve ser altamente controlada. O principal objetivo desses sistemas é maximizar a produtividade por animal e por hectare, assegurando um fornecimento constante de forragem de alta qualidade durante todo o ciclo produtivo. Devido ao manejo intensivo e à alta produtividade, é possível trabalhar com ofertas de forragem mais baixas, uma vez que o foco está em atingir altos desempenhos de produção.
Esses sistemas se destacam por práticas que garantem eficiência. A adubação é uma delas, sendo fundamental para a reposição de nutrientes no solo, o que resulta em uma maior produção de biomassa e em forragem de qualidade superior. A suplementação estratégica também desempenha um papel importante, substituindo parte da forragem disponível e permitindo tanto o aumento da capacidade de suporte quanto a maximização do desempenho dos animais. Em algumas fazendas e regiões, a irrigação é de pastagem é utilizada, garantindo a produção de forragem mesmo em períodos de estiagem. Além disso, o planejamento alimentar é imprescindível, reduzindo custos operacionais e otimizando o uso dos recursos disponíveis para aumentar a eficiência no ganho de peso dos animais.
Nesse cenário, a gestão da oferta de forragem é crucial para equilibrar a utilização das pastagens, evitando desperdícios e prevenindo o sub e superpastejo, que pode levar à degradação do solo e comprometer a produtividade a longo prazo.
Sazonalidade e Oferta de Forragem no Brasil
A sazonalidade na produção de forragem é um dos principais desafios enfrentados pela pecuária a pasto no Brasil. Durante o período das águas, as pastagens produzem grandes quantidades de massa. Em contraste, no período seco, ocorre uma drástica redução na disponibilidade e na qualidade da forragem, afetando diretamente o desempenho animal.
Uma oferta de forragem mal manejada pode desencadear uma série de problemas, como superpastejo, degradação do solo e queda na produtividade animal. No entanto, uma gestão eficiente é capaz de reverter esse cenário, promovendo melhor conversão alimentar, maior longevidade das pastagens e sustentabilidade do sistema produtivo.
A oferta de forragem é um dos pilares fundamentais da pecuária a pasto no Brasil. Sua gestão eficiente deve ser adaptada aos diferentes sistemas de produção e às condições climáticas regionais. Por meio de estratégias como o manejo rotacionado, suplementação alimentar e uso de tecnologias para monitorar a massa de forragem disponível, os produtores têm a oportunidade de superar os desafios do manejo, independente do sistema produtivo.
Até o próximo post!
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