O Momento Estratégico da Reposição: Ele Já Passou ou Está Chegando?

A gestão eficiente na pecuária de corte exige que os produtores olhem para a fazenda não apenas como um pasto, mas como uma verdadeira “fábrica de boi”. Assim como uma fábrica de carros compra pneus e motores para, no final, produzir um automóvel pronto, a fazenda compra insumos como ração, adubo, vacinas, mão de obra e, crucialmente, a reposição (os bezerros) para produzir o boi gordo.

Dentro dessa estrutura de custos, o peso da reposição é monumental: ele representa, na maior parte das vezes, o maior custo em um sistema de recria, variando entre 50% e 60% do custo total da fazenda no fluxo de caixa anual. Por isso, comprar bem é o ponto de partida fundamental para se obter bons resultados; comprar mal ou atrasar a compra pode comprometer seriamente a lucratividade.

A grande questão, levantada por muitos pecuaristas, é: Qual é o momento certo de comprar?. Para algumas fazendas, a resposta já está clara: o momento ideal de compra pode já estar passando ou chegando ao fim.

A Lógica por Trás da Antecipação

O momento tradicional de compra acontece quando o pasto está pronto, geralmente a partir do final de novembro, dezembro ou janeiro, dependendo do regime pluviométrico e da região. No entanto, esperar até ter pasto expõe o produtor a dois grandes riscos:

  1. Aumento de Preço: O mercado está todo comprando simultaneamente, fazendo com que o pecuarista caia no preço de mercado no momento mais alto. A reposição já demonstra uma tendência de alta no preço.
  2. Dificuldade de Manejo: Ao chegar tardiamente, o capim já pode estar “meio passado”, dificultando o manejo adequado do gado.

Para fugir dessa armadilha, a estratégia reside em antecipar a compra.

O Papel da Tecnologia na Antecipação

Antecipar a reposição exige que a fazenda tenha uma estratégia para nutrir os animais antes que o pasto esteja disponível. Isso se torna viável através das tecnologias de suplementação, que incluem desde a suplementação a pasto (HIP), até o sequestro, o semiconfinamento, ou a recria confinada.

A suplementação permite:

  • Aumentar o ganho de peso e reduzir o tempo de abate.
  • Utilizar o efeito substitutivo, onde a suplementação pode substituir a forragem que seria consumida no pasto, permitindo que caiba mais bezerro na fazenda.
  • Comprar em um momento em que a maioria do mercado não está comprando, seja por falta de pasto, falta de estrutura adequada ou falta de fluxo de caixa.

Comprar o animal de forma antecipada significa que, quando o pasto estiver no ponto ideal de pastejo, os animais já estarão dentro da fazenda, prontos para o manejo, já adaptados e tendo passado pelo estresse de transporte e protocolos sanitários.

A Viabilidade Econômica da Estratégia

Muitos produtores podem pensar que antecipar e confinar esses animais os tornará mais caros. No entanto, a simulação abaixo, usando dados reais de fazendas, demonstra que a estratégia pode não só se pagar, mas também gerar valor:

 

 

 

O que essa simulação revela é que o desempenho (ganho de 1.26 arrobas) paga a nutrição (custo de R$ 460). Ao final do período de suplementação antecipada, o animal está com 8.2 arrobas, pronto para o pasto, e o produtor evitou pagar um preço significativamente maior no momento de pico de demanda do mercado.

Em outras palavras, ao antecipar, você está reduzindo o risco da operação.

O Ciclo Pecuário e a Redução de Risco

Estamos em um momento de possível alta no ciclo pecuário, onde o preço da reposição tende a subir ainda mais do que o do boi gordo. O preço por quilo de bezerro de 7 arrobas na praça de São Paulo demonstrou um aumento médio de 2% ao mês nos últimos 2 anos, totalizando quase 25% de aumento anual.

Essa volatilidade exige que o produtor tenha estratégias que permitam garantir a reposição e fazer ótimos negócios, especialmente porque, no momento seco do ano, costumam aparecer boas oportunidades de compra.

Fazendas que conseguem sincronizar todas as suas operações – fazendo a compra antecipada em uma possível rampa de alta, colocando os bezerros já “embalados” na boca das águas e realizando um bom manejo de pastos – entram no próximo ciclo de produção ganhando. Elas otimizam o resultado.

É essencial lembrar que as tecnologias de suplementação só funcionam se houver pasto de qualidade. Saber determinar a taxa de lotação e adotar a estratégia de manejo correta é crucial, visto que 85% dos bois abatidos no Brasil passam pela pastagem.

Ter estratégias de nutrição que permitem inverter ou antecipar o momento de compra é altamente favorável para colocar o sistema cada vez mais na mão do pecuarista na hora que começar a chover.

 

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