DECIDINDO NA HORA CERTA: Mensurando e manejando de mãos dadas

Mario Garcia
Diretor da Exagro

A pecuária brasileira assim como outros setores da economia tem avançado muito nos anos recentes em termos de gestão. O acompanhamento de resultados, pouco utilizado na pecuária até recentemente, agora já faz parte da rotina das conversas das pessoas que coordenam os trabalhos das fazendas que se destacam em termos de produção e resultados econômicos.

A pastagem como base da alimentação do rebanho brasileiro, também tem avançado em termos de acompanhamento de processos com foco em melhoria do uso dos recursos. Contudo, apesar de todo o conhecimento publicado pelos pesquisadores da área e utilizado por extensionistas, poucas fazendas se utilizam de técnicas de mensuração de forragem com foco no ajuste da taxa de lotação na busca por melhores desempenhos por cabeça e por unidade de área de produção.

Apesar de toda a complexidade em sincronizar a produção de forragem com a taxa de lotação na busca de melhoria de desempenho e de resultados alcançados, o que se observa na maioria das vezes são técnicas empíricas de uso das pastagens. Para orientar as ações na busca de melhoria na forma de uso das pastagens, é didático analisar o fluxograma do processo de produção de Hodgson, 1990 (Figura 1). Nele podemos visualizar as etapas e planejar ações que permitam a identificação e solução de problemas na condução do manejo de forma estruturada o que facilita a compreensão por parte dos trabalhadores no setor.


Figura 1- Diagrama do fluxo de produção em pastagens.

O uso de indicadores para analisarmos como melhorar a performance dos sistemas é técnica amplamente utilizada em outras áreas da gestão nos diversos seguimentos, no caso das pastagens são poucos em termos de uso. Com relação aos recursos são utilizadas área, análises de solo, controles climatológicos e vários outros. Na outra extremidade, o produto animal, também é corriqueiro o uso de indicadores como peso vivo, peso e rendimento de carcaça, valor de comercialização, etc. Já os indicadores relacionados à produção vegetal, formas de utilização e taxas de conversão são raros de se encontrar nas fazendas como rotina de trabalho.

Apesar da pesquisa demonstrar a importância de se incorporar à rotina uma série de indicadores de crescimento, estoque e forma de uso da forragem produzida, na grande maioria das vezes o que se utiliza na rotina é somente a taxa de lotação, geralmente desvinculada de uma medição do estoque forrageiro com o objetivo de se determinar a oferta de forragem ótima em termos de uso do sistema.

Na figura 2 são apresentados indicadores para as etapas do fluxo de produção em pastagens. Todos com uma gama de técnicas para que possam ser utilizadas na rotina do dia-a-dia. Um dos limitantes no uso dessas técnicas é o grande volume de trabalho demandado aliado ao porte das fazendas de pecuária de corte. Desde medições de altura até medição direta, com corte e secagem do capim para determinação do teor de matéria seca são técnicas que demandam volumes de trabalho consideráveis em razão do porte das fazendas brasileiras e a variedade de espécies forrageiras utilizadas.

Figura 2 – Indicadores para as diversas etapas do processo de produção em pastagens.
FA – Forragem acumulada; MS – Matéria seca; OF – Oferta de forragem; PC – Peso corporal; TAF – Taxa de acúmulo de forragem; TD – Taxa de desaparecimento

Quando analisamos a cultura brasileira de se determinar a taxa de lotação em critérios empíricos, desvinculados na maioria das vezes do estoque forrageiro, o que possibilitaria se utilizar da oferta de forragem, temos uma amplitude enorme de resultados. Mas como a fertilização e reposição de nutrientes não é prática da maioria na pecuária comercial, acaba-se por trabalhar com base na fertilidade natural ajustando a taxa de lotação na “tentativa e erro”, levando a uma dispersão enorme de resultados e dentre estes resultados muitos culminando com degradação das pastagens, fato comprovado em vários relatos de pesquisadores especializados na área.

Além da dispersão de resultados e aceleração do processo de degradação quando se trabalha somente com a taxa de lotação sem observar a capacidade de suporte das pastagens, a questão tem tido sua relevância aumentada na atualidade devido à pressão pelo aumento de produtividade advindo da dificuldade cada vez maior de se manter a sustentabilidade econômica dos sistemas pastoris. Nesse caso o que se observa é a tentativa de fertilização para aumentar a capacidade de suporte das pastagens e novamente observa-se uma variabilidade de resultados com a técnica, uma vez que a premissa básica do trabalho que é a profissionalização do manejo não é desenvolvida junto às equipes das fazendas. Nessas circunstâncias, uma regra básica do trabalho com sistema de pastejo é quebrada, que é explorar primeiro as tecnologias de processos para depois investir em tecnologias de insumos. Além de ter custos muito mais baixos e em vários aspectos até mesmo inexistentes, investir em capacitação das equipes com refinamento dos processos relacionados ao manejo, capacita as equipes a explorar de forma racional os investimentos feitos em tecnologias de insumos.


Figura 2- Limites de exploração (Adaptado de Nabinger)

Através da escolha de alguns indicadores escolhidos conforme o sistema em questão, maturidade da equipe e acompanhamento frequente, aumentam as chances de  melhoria na qualidade das decisões e consequentemente os resultados. Cria-se a possibilidade de identificação precoce de resultados parciais que poderiam comprometer os resultados de determinado período, realinhando ações antes que estas se concretizem no resultado final.

Até breve pessoal!

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