Uso da Crotalária como fonte de adubo na reforma de pastagens

Marcus Prado
Consultor Exagro

Hoje aqui no PastoComCiência iremos conversar sobre uma estratégia de recuperação de pastagens. Vocês já ouviram falar de uma leguminosa chamada Crotalária? A Crotalária, assim como outras espécies de leguminosas, pode servir como fonte de adubo na recuperação de áreas degradadas ou na abertura de novas áreas, principalmente pela fixação de nitrogênio no solo. Esta estratégia, que utiliza uma planta para fornecer nutrientes à outra, faz parte de um grupo chamado Adubação Verde.

A Adubação Verde se deve pelo uso de plantas como fonte de adubos. Existem vários tipos de plantas que podem ser utilizadas com esta premissa, sendo que as plantas escolhidas têm como características a rusticidade, sistema radicular robusto e profundo e elevado potencial de fixação de nitrogênio.

Plantio de Crotalária spectabilis no norte de Minas Gerais.

No Brasil, a utilização dos adubos verdes e os primeiros trabalhos científicos começaram no início do século XX. Porém, o estudo foi abandonado nas décadas de 50 e 60 com a chegada do adubo mineral, só retornando na década de 70 como uma solução viável para recuperar os solos empobrecidos pelo cultivo intensivo e os solos de baixa fertilidade das novas fronteiras agrícolas. Este retorno aumentou o consumo de sementes a partir da década de 80.

O uso desta tecnologia hoje é mais explorado na agricultura, onde já foram comprovados uma série de benefícios, tais quais: aumento da fertilidade do solo e da produtividade; aumento da matéria orgânica; descompactação do solo; redução da erosão; retenção de água e quebra do ciclo de algumas pragas e doenças como os nematoides fitoparasitos. Em pastagens, existem poucos relatos de uso da adubação verde, porém, esta é capaz de trazer os mesmos benefícios.

É importante ressaltar que antes da implantação da adubação verde, é necessário realizar análise de solo para avaliar os nutrientes já disponíveis no solo e avaliar as correções necessárias. Ela é uma boa fonte para aumento da matéria orgânica e fixação de nitrogênio no sistema, além das outras vantagens citadas acima, mas em relação ao fósforo e potássio é necessário fazer as devidas correções do sistema, caso seja necessário.

Nódulos ricos em nitrogênio nas raízes da Crotalária spectabilis

O objetivo deste artigo é trazer um pouco de conhecimento sobre o uso das Crotalárias como adubo verde em recuperação de áreas de pastagem e apresentar a experiência obtida até agora em um cliente onde ela está sendo utilizada para recuperar uma área de pastagem degradada por intempéries.

Existem alguns tipos de Crotalárias com diferentes potenciais comercializados no mercado, sendo as mais relevantes:

  • A Crotalaria juncea, que se destaca pelo crescimento relativamente rápido, podendo atingir de 2 a 3 metros de altura, e possui um importante efeito supressor às invasoras. Tem produzido elevada fitomassa, chegando a produzir 10 a 15 toneladas de matéria seca por hectare (MS/ha). Adapta-se bem em diferentes regiões, desde solos arenosos até argilosos. Pode fixar de 150 até 450 Kg/ha/ano de Nitrogênio.
  • A Crotalaria ochroleuca, que também possui porte mais alto, entre 1,5 a 2 metros de altura, produzindo de 7 a 10 toneladas MS/ha, fixando em média de 200 a 300 Kg de N/ha. É a crotalária de florescimento mais tardio.
  • A Crotalaria spectabilis, que possui porte mais baixo, entre 1 a 1,5 metros de altura, produzindo de 4 a 6 toneladas de matéria seca por hectare, chegando a fixar de 100 a 160 Kg/ha/ano de Nitrogênio.
  • A Crotalária berviflora, que é a crotalária de menor porte, com até 1 metro de altura, sendo a de menor produção de fitomassa seca, cerca de 3 a 5 toneladas por hectare.

O ciclo de florescimento das crotalárias varia de 90 a 120 dias, sendo que a C. ochroleuca pode levar até 150 dias para o florescimento. O plantio das crotalárias é recomendado, em vias gerais, de outubro a novembro, coincidindo com o início do período chuvoso.

Passando à experiência prática, recentemente tivemos um problema com uma pastagem de Braquiária Decumbens em um cliente atendido pelo PastoComCiência. O histórico desta pastagem começa no início de 2021, onde o período chuvoso foi intenso e curto na região. Dentro deste período, a pastagem ainda sofreu dois ataques severos de cigarrinha, algo que não havia acontecido até então naquela área. Foi feito o controle com inseticida, porém, o segundo dano já havia acontecido e, com o fim da estação chuvosa em fevereiro, a forrageira entrou na estação seca debilitada. Dentro da estação seca, houve uma geada, algo incomum na região, que afetou mais ainda a pastagem de decumbens. Os pastos ao lado eram de Braquiarão e não sofreram tanto pelo ataque da cigarrinha.

Com o retorno da estação chuvosa em outubro de 2021, começamos a notar que a área não estava rebrotando e, por ser característica da forrageira, acreditávamos que haveria um rebrote de sementes.

Pasto de braquiária em novembro de 2021. Sem rebrote da forrageira. 209 mm de chuvas acumulados.

Em dezembro, ainda sem rebrote da área, foi decidido então realizar a reforma da pastagem. Porém, como foi algo não planejado, os insumos estavam em valores altos e havia receio frente à instabilidade climática, decidimos usar os conhecimentos e os benefícios da crotalária e implantamos este formato na recuperação desta área de 10 hectares.

Com base na análise de solo, não seria necessário fazer correção, então foi feito somente o preparo da área e plantio da semente em janeiro de 2022. O plano é formar a pastagem em outubro de 2022, deixando a leguminosa agir no solo e fixar o máximo de nitrogênio possível neste período.

A germinação foi muito boa e estamos contentes, acreditando que o resultado será promissor. Iremos continuar reportando aqui no blog os resultados desta área até o final, com a implantação da forrageira no fim do ano 2022.

Crotalária com 30 dias após a germinação

 

Crotalária com 50 dias após a germinação

 

Crotalária com 80 dias pós germinação

Quer conhecer mais sobre o uso de adubação verde como ferramenta na recuperação de áreas degradas? Comente aqui neste post.

Até a próxima postagem!

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