Correção da acidez de solos: revisão e importância

Marcelo Valdrighi
Trainee Exagro

Você sabia que o crescimento das plantas forrageiras é prejudicado em condições de solo com baixo pH, teores baixos de cálcio e magnésio e elevados teores de alumínio? E que essas são características encontradas em boa parte dos solos brasileiros? Hoje vamos falar da importância e dos fatores relacionados à correção da acidez de solos.

Fonte: arquivo pessoal

Quando se fala em correção de solos, surgem alguns conceitos que precisam ser relembrados, como por exemplo a acidez dos solos. A acidez do solo está relacionada com a concentração de hidrogênio e alumínio nele. Estes dois elementos podem estar na fase líquida ou sólida. Quando na fase líquida, exercem efeito direto sobre as raízes das plantas; quanto mais hidrogênio na fase líquida, mais ácido se torna o solo e menor é o pH.  Quando na fase sólida, a concentração destes elementos representa a acidez potencial do solo; quanto maior a concentração deles; mais ácido é o solo.

Sabe-se que a fase líquida do solo é o meio de onde as raízes das plantas absorvem os nutrientes e que, em condições de pH mais baixo, a absorção de vários nutrientes (como fósforo, potássio, nitrogênio, entre outros) fica comprometida. Já o alumínio na fase sólida, exerce impacto pela capacidade de ser liberado da fase sólida para a fase líquida, onde ele também promove redução na absorção de nutrientes pelas plantas, uma vez que é tóxico para as raízes. Quando em altas concentrações, impacta negativamente o crescimento das raízes, tornando-as mais grossas e curtas e com menor capacidade de exploração do solo para absorção de água e nutrientes. Além disso, quando o alumínio passa para a fase líquida, ele pode participar de reações com moléculas de água, que resultam na liberação de mais hidrogênio, aumentando a acidez e diminuindo o pH do solo. A concentração de hidrogênio na fase sólida é a grande reserva deste elemento no solo, que é liberado para a fase líquida, mantendo a acidez.

A tabela abaixo mostra o percentual de assimilação dos principais nutrientes pelas plantas em diferentes valores de pH dos solos:

No solo, existem componentes básicos como cálcio, magnésio, potássio, sódio e componentes ácidos, como os citados anteriormente. O processo de acidificação consiste na remoção dos componentes básicos do solo e substituição pelos componentes ácidos. Com relação à origem da acidez dos solos, pode-se dizer que os solos tendem a ser ácidos quando a sua rocha de origem é pobre em bases, ou, então, quando o material de origem que era rico em bases sofreu intenso processo de intemperismo, com consequente perda de bases. Além disso, o próprio cultivo do solo pode gerar acidificação, uma vez que os elementos básicos que foram absorvidos pelas plantas são retirados do sistema pela colheita. Outra causa de acidificação relacionada ao cultivo seria a utilização de fertilizantes, como os nitrogenados, que resultam na formação de amônio (NH4+) no solo que também pode participar de reações que culminam na liberação de hidrogênio, contribuindo para a redução do pH.

A correção de solo por meio da aplicação de calcário atua fornecendo elementos básicos para o solo, como cálcio e magnésio, além de outros componentes que reagem no solo e ligam o alumínio e o hidrogênio com outros elementos, formando compostos mais complexos, de tal maneira que eles deixam de ser tóxicos para as plantas.

Com base no que foi mencionado anteriormente, pode-se dizer que a correção de solos é uma prática de extrema importância em termos de fertilidade do solo, uma vez que ela apresenta vários benefícios, como: elevação do pH, aumento da disponibilidade de macronutrientes para as plantas, diminuição da toxidez de alumínio, aumento da eficiência dos fertilizantes aplicados e fornecimento de cálcio e magnésio, que normalmente estão em baixas concentrações nos solos ácidos. Esses e outros fatores promovem aumento da produtividade das culturas, maior eficiência no processo de formação de pastagens, aumento da perenidade das culturas, entre outros impactos positivos.

Em sistemas de exploração intensiva das pastagens, onde se utilizam elevadas doses de fertilizantes, a calagem tem papel fundamental na maximização da eficiência do uso de fertilizantes, além de reverter a acidificação promovida pela utilização de fertilizantes químicos, principalmente os nitrogenados.

Existem trabalhos de pesquisa que avaliaram a utilização de corretivos na recuperação de pastagens degradadas de Brachiaria brizantha. O resultado obtido revelou um aumento de 21% na produção de matéria seca/hectare e maior qualidade bromatológica da forrageira produzida, para os tratamentos onde foram utilizados calcário e gesso para a correção do solo, em comparação com o tratamento controle (sem aplicação de corretivos). Tal efeito foi atribuído à capacidade dos corretivos em colocar os nutrientes do solo em disponibilidade para as plantas, além dos efeitos benéficos ao enraizamento que aumenta a capacidade de absorção de água e nutrientes.

Outros pesquisadores estudaram a produção do capim massai com doses crescentes de calcário em solo arenoso. Os resultados de produção de matéria seca por hectare foram significativamente maiores para a dose de 2 ton/ha em comparação com o grupo controle e os demais tratamentos, utilizando doses menores e maiores de calcário. Nessa pesquisa, os autores também destacam a importância na utilização do calcário na implantação do capim massai, considerando o efeito das adubações de implantação e manutenção.

No caso de solos degradados, onde já houve intensa extração de nutrientes, a resposta à calagem sem adição de fertilizantes pode não existir; mas, nos casos em que existe alguma fertilidade, a calagem por si só pode produzir aumento na produção de forragem na ordem de 1,5 toneladas de matéria seca/ha, como mostra o gráfico abaixo. Nele, vemos que a produção de ms/ha/ano de Brachiaria brizantha cv. Marandu saiu de 4,36, nas condições iniciais de pastagem degradada, para 5,93 após a calagem.

Fonte: Oliveira et al. (1999), citado por Oliveira et al. (2008)

Também é interessante notar neste estudo o efeito positivo da calagem na resposta à fertilização, uma vez que apenas a fertilização conseguiu elevar a produção de forragem para 16,36 toneladas, ao passo que a calagem + a fertilização elevou a produção para 19 toneladas de ms/hectare/ano. Além disso, na média, a produção de matéria seca com calagem foi significativamente superior à sem calagem.

Por fim, é importante destacar que, antes de se realizar a correção de solos, é de extrema importância que seja realizada a análise de solo das áreas onde se pretende aplicar o corretivo. A interpretação dos resultados deve ser feita por um profissional especializado, para que se tenha as recomendações de aplicação de corretivos em conformidade com as características do solo e mais adequadas ao sistema produtivo em questão.

Referências:

AGRONÔMICAS, Viçosa. corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª Aproximação. Viçosa, MG, Comissão. LEONARDO ANGELO DE AQUINO, v. 63, n. 4, p. 62, 2009.

  1. VAN RAIJ. Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. Campinas: IAC, 1996.

DE CASTRO, Fernando Ribeiro; REZENDE, Cláudia Fabiana Alves. Uso de corretivos do solo e a recuperação de pastagem degradada de Braquiária brizantha. Research, Society and Development, v. 10, n. 15, p. e76101522617-e76101522617, 2021.

FERREIRA, Ricardo Buonarott; MACEDO, Manuel Claudio Motta. Avaliação da produção do capim-massai sob doses crescentes de calcário em solo arenoso. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, v. 10, n. 1, p. 21-32, 2006.

OLIVEIRA, Patrícia Perondi Anchão; PENATI, M. A.; CORSI, M. Correção do solo e fertilização de pastagens em sistemas intensivos de produção de leite. Embrapa Pecuária Sudeste-Documentos (INFOTECA-E), 2008.

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