Marcus Prado
Jackson Alves
Exagro Consultoria
Olá, pessoal! Na nossa última postagem, abordamos um tema que está ganhando cada vez mais espaço nas fazendas: a recria confinada. Discutimos suas vantagens, custos e o impressionante ganho de peso que pode ser alcançado. Mas uma dúvida persistiu: o que acontece com o desempenho desses animais depois que saem do confinamento e voltam para o pasto? É exatamente isso que vamos explorar hoje, mergulhando nos resultados de diferentes estratégias de suplementação a pasto!
Recria Confinada
Para quem não acompanhou, a recria confinada é uma alternativa crescente para trabalhar com animais em instalações fechadas, onde a dieta é fornecida total ou parcialmente sob um sistema de confinamento. Ela é muito utilizada no período seco do ano para garantir o desempenho dos animais, evitando a restrição nutricional. Nosso foco tem sido em maximizar o ganho na recria confinada, com resultados chegando a 800-900g, ou quase 1kg de ganho por dia, em vez dos 600-700g tradicionalmente falados.
O Desafio Pós-Confinamento: Manter o Ritmo!
A grande questão que surgiu é: qual o impacto de imprimir mais ganho nesses animais dentro do confinamento quando eles são soltos novamente para a recria a pasto? O objetivo principal na recria a pasto pós-confinamento é explorar ao máximo a passagem desses animais, otimizando a produção de arrobas por hectare, sem degradar o solo ou a planta. Isso significa oferecer a melhor qualidade de forragem, com boa estrutura e qualidade de folha. Um ponto crucial é que animais que passaram pela recria confinada precisam de maior atenção e capricho na qualidade da forragem ofertada para atender suas exigências nutricionais.
Três Estratégias de Suplementação a Pasto Avaliadas
Para entender como esses animais se comportam, avaliamos três estratégias de nutrição mineral em fazendas nas regiões Norte do Brasil (Pará, Tocantins, Maranhão). Todas as avaliações ocorreram em sistemas de pastejo rotacionado, com boa oferta e qualidade de forragem. Veja os detalhes:
- Mineral Aditivado:
- O que é: Um mineral tradicional de águas, com um ionóforo (aditivo) para potencializar o desempenho, aumentar a digestibilidade e o crescimento bacteriano favorável para degradar a fibra.
- Consumo: Cerca de 131g por animal por dia.
- Ganho Médio Diário: 650g a 660g/dia (ou 0,66 kg/dia).
- Proteinado 0,1% (Proteinado de Águas):
- O que é: Um produto com mais farelados (coprodutos como farelo de milho, soja ou DDG), com maior quantidade de proteína bruta e metabolizável. É um proteinado específico para o período das águas, diferente do usado na seca.
- Consumo: 0,1% do peso vivo do animal (ex: animal de 300kg consome 300g/dia), totalizando cerca de 471g por animal por dia.
- Ganho Médio Diário: 749g/dia (ou 0,749 kg/dia).
- Proteico Energético 0,3%:
- O que é: Um suplemento com maior concentração de energia (mais amido e milho em sua composição), além de proteína metabolizável adequada para a necessidade de desempenho do animal.
- Consumo: 0,3% do peso vivo do animal (ex: animal de 300kg consome 900g/dia), totalizando cerca de 1.257g por animal por dia.
- Ganho Médio Diário: 860g/dia (ou 0,860 kg/dia).
Os resultados demonstram que, como esperado, quanto mais proteína e energia foram alocadas na dieta, maior foi o potencial de ganho expressado pelos animais. É importante notar que esses animais já vinham de um processo de alto ganho na fase de recria confinada, sem restrição nutricional.
Desempenho vs. Custo: A Balança da Estratégia
Agora, vamos ao que realmente importa na gestão da fazenda: a relação entre desempenho e custo. Avaliamos os animais por 210 dias (período chuvoso/de águas). O peso final da recria confinada para esses animais era de 329 kg. Veja a comparação dos resultados:
Nota: Os custos da diária incluem custo nutricional e operacional.
Como podemos observar, o mineral aditivado tem o menor custo diário e o menor custo por arroba produzida na fase a pasto (R$ 117 contra R$ 143 do proteico energético). No entanto, ele também resulta em um menor ganho de peso e, consequentemente, menos arrobas produzidas (4,6 arrobas contra 6,0 arrobas do proteico energético).
Aqui está o ponto crucial: quando olhamos o custo final da arroba do garrote após 11 meses (4 meses de recria confinada + 7 meses de recria a pasto), percebemos que os valores são muito próximos entre as três estratégias (R$ 271 para mineral, R$ 268 para proteinado e R$ 267 para proteico energético). A grande diferença é o peso final e a quantidade de arrobas que o animal atingiu. Animais com mineral aditivado chegaram a 15,5 arrobas, enquanto os do proteico energético alcançaram 17 arrobas.
O Próximo Passo: Definindo o Acabamento e o Ciclo Curto
A escolha da estratégia na recria a pasto tem um impacto direto na próxima fase do animal, o acabamento. Se um animal chega ao final dos 11 meses com 17 arrobas (equivalente a aproximadamente 510 kg, dado o objetivo de 570 kg com mais 60 kg de ganho), e o objetivo da fazenda é vendê-lo com 570 kg, ele precisa ganhar apenas mais 60 kg. Isso pode ser alcançado em cerca de 60 dias com um semiconfinamento de 1% ou 0,5% do peso vivo de suplemento.
Por outro lado, um animal que ficou no mineral aditivado e chegou aos 11 meses com 15,5 arrobas (cerca de 470 kg) precisará ganhar 100 kg para atingir os 570 kg. Isso pode exigir um maior volume de suplementação, um semiconfinamento mais intenso, um TIP (Terminação Intensiva a Pasto) ou até mesmo um confinamento completo, dependendo das condições da fazenda.
A grande vantagem de imprimir mais desempenho desde o início (recria confinada e depois proteico energético a pasto) é que o animal chega mais pesado à fase de acabamento, acelerando o ciclo produtivo. O objetivo é buscar um ciclo curto, de 13 a 15 meses, com o animal pronto para abate. Isso aumenta a eficiência produtiva da fazenda e a rotatividade de capital.
Planejamento Estratégico: A Chave do Sucesso
A decisão sobre qual estratégia usar deve ser tomada logo no primeiro dia das águas, ou mesmo antes, considerando a estrutura da fazenda e o destino final do animal (venda para terceiro, boitel, terminação própria). A recria confinada não é para todas as fazendas, e a escolha de intensidade de ganho (na recria confinada e a pasto) depende de como você quer conduzir o animal até o final.
É fundamental fazer um bom plano tático, uma boa análise de custos e um planejamento estratégico para todas as fases. Os preços de insumos (como milho, que variou de R$ 98-100 para R$ 55 o saco na região Norte) e da arroba do boi (que chegou a R$ 225 e agora está em R$ 290-300) variam constantemente. Por isso, a capacidade de adaptar sua estratégia e fazer as contas é o que garantirá a margem de lucro e a sustentabilidade do negócio. O importante é entender que existem estratégias diferentes para diferentes objetivos, e todas elas podem levar a um ciclo curto e eficiente, desde que bem planejadas.
Até a próxima!
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