Por Jackson Alves e Marcus Prado
Exagro Consultoria
A pecuária, seja de corte ou de leite, está sempre em busca de inovações que otimizem a produção e reduzam custos. Uma tecnologia que tem ganhado destaque e transformado os resultados nas fazendas é a silagem de grão reidratado. Mas, afinal, será que vale a pena investir nessa técnica? Vamos explorar seus benefícios e os cuidados necessários.
O Que É a Silagem de Grão Reidratado?
A silagem de grão reidratado consiste em pegar um grão seco, como milho ou sorgo, e adicionar a quantidade correta de água para favorecer um processo de fermentação eficiente. A umidade é crucial para que as bactérias realizem uma boa fermentação do produto. O processo envolve a trituração do grão, a incorporação da umidade e o ensilamento, de forma similar ao que se faz com um silo de milho ou capim.

Principais Benefícios da Silagem de Grão Reidratado
A adoção da silagem de grão reidratado oferece uma série de vantagens estratégicas para a sua operação:
- Estratégia de Compra Otimizada: Permite adquirir o grão no período de safra, quando os preços são mais acessíveis, resultando em um custo de aquisição mais baixo.
- Facilidade de Armazenamento: Supera os desafios de armazenamento volumétrico, pois o grão pode ser estocado em estruturas mais simples, como silo bags, silos trincheira ou de superfície. Ao agregar água até o ponto ideal de 35% de umidade para fermentação, é possível aumentar o tempo de armazenagem do grão que chega com 12-15% de umidade.
- Redução de Custos de Manuseio: Diminui o número de transferências (“tombo”) do milho dentro da unidade de produção, o que se traduz em um menor custo de armazenagem.
- Melhora na Digestibilidade e Disponibilidade do Amido: A fermentação otimiza a eficiência e aumenta significativamente a degradabilidade e digestibilidade do amido.
- Melhor Desempenho dos Animais: Com o amido mais disponível, há uma maior energia líquida de ganho na dieta. Os animais podem apresentar um menor consumo de matéria seca por cabeça sem prejuízo no desempenho, devido à maior concentração de amido e energia.
- Uso de Inoculantes para Fermentação Eficiente: A adição de inoculantes é fundamental, pois são aditivos microbianos que promovem uma fermentação mais eficiente, melhorando a qualidade e a estabilidade da silagem.
Essa tecnologia é amplamente utilizada em confinamentos (31% do grão utilizado hoje vem de silagem de milho reidratado), TIP e semiconfinamento, devido à sua simplicidade de implementação na fazenda.
Silagem de Grão Reidratado vs. Grão Seco: O Grande Diferencial Competitivo
A principal vantagem da silagem de grão reidratado reside na digestibilidade do amido. Enquanto o grão seco apresenta uma digestibilidade de amido de cerca de 60%, o grão reidratado alcança aproximadamente 90% de aproveitamento. Isso significa que a energia contida no milho se torna muito mais acessível para os animais.

Embora o grão reidratado possa ter um custo por saca ligeiramente maior devido ao processo de reidratação e ensilagem (por exemplo, uma saca de R$66 pode passar a R$68,38), o custo por quilo de amido (energia) disponível é significativamente menor. Para obter 1 kg de energia (amido), seriam necessários 1,67 kg de milho moído seco, enquanto com o grão reidratado, apenas 1,1 kg são suficientes. Isso resulta em um custo 31% menor por quilo de amido (R$1,27 para o reidratado contra R$1,83 para o seco).
Desafios e Cuidados Essenciais
Apesar de ser considerada uma tecnologia simples de implementar, alguns cuidados são cruciais para garantir a qualidade e o sucesso da silagem de grão reidratado:

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- Tipo e Qualidade da Moagem: O moinho (martelo ou rolo) deve ser adequado ao tipo de grão (milho ou sorgo). É vital que o grão seja bem quebrado (o milho, por exemplo, em pelo menos seis pedaços) para aumentar a área de contato e quebrar a matriz proteica, liberando o amido.
- Conhecimento Técnico: Dominar a técnica é essencial. É importante buscar conhecimento sobre a escolha do moinho, o processamento, a capacidade de moagem por hora e a calibração constante da quantidade de água e inoculante.
- Uso Correto de Inoculantes: Os inoculantes adequados favorecem a fermentação lática e propiônica, evitando perdas e o desenvolvimento de fungos.
- Quantidade de Água: É um fator crítico. O produto final deve atingir 35% de umidade. A matéria seca do grão que chega na fazenda pode variar (12-15%), por isso, é fundamental medir a umidade diariamente e calcular a quantidade exata de água a ser adicionada. Para cada tonelada de milho (considerando 87% de matéria seca inicial e 65% desejado após reidratação), seriam necessários cerca de 338 litros de água.
- Compactação e Vedação: Uma boa compactação do material ensilado e uma vedação eficiente do silo são cruciais para a anaerobiose (ausência de oxigênio), garantindo a qualidade da fermentação e minimizando perdas. O uso de lonas com barreira de oxigênio e, se necessário, produtos como ácidos orgânicos ou benzoato de sódio na superfície, pode melhorar a qualidade da fermentação.
- Tempo de Estocagem: O milho reidratado ou sorgo ensilado precisa de, no mínimo, 60 dias de estocagem para que atinja o grau de digestibilidade desejado (85-90%). Não respeitar esse tempo compromete o principal benefício da tecnologia.
Custo Operacional e o Retorno do Investimento
Há um custo operacional envolvido na reidratação e ensilagem (combustível para tratores e pá carregadeira, mão de obra, inoculante, lona).
Contudo, o grande ponto é que, ao utilizar a silagem de grão reidratado, você pode utilizar menos milho para obter o mesmo desempenho ou, com a mesma quantidade de milho, tratar mais animais e produzir mais arrobas. Isso se traduz em um menor custo da dieta e, consequentemente, em mais arroba produzida com menor custo.
A silagem de grão reidratado é, sem dúvida, uma ferramenta extraordinária para otimizar os resultados na pecuária. Se bem executada, permite alcançar o objetivo de menos milho e mais arroba!

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