Escolha da forrageira para a estação seca do ano – Relato de Caso

Marcus Prado
Consultor Exagro

A seca é uma estação do ano caracterizada por redução de pluviosidade, temperatura e luminosidade, e ocorre em uma grande parte do Brasil Tropical. Os fatores citados são limitantes para o crescimento das forrageiras tropicais, como vimos nesta postagem anterior sobre a taxa de acúmulo do capim.

https://pastocomciencia.com.br/2020/09/13/taxa-de-acumulo-qual-sua-importancia-no-planejamento-da-producao-de-forragens-nas-fazendas/

Além de haver uma menor produção forrageira nesta estação, existe perda de qualidade, provocada pela ocorrência de senescência do capim ou de florescimento e produção de sementes, o que transloca nutrientes para as sementes ou para as reservas nas raízes.

Esta perda de qualidade pode ser percebida no Teor de Proteína das pastagens na época seca. Abaixo apresentamos um gráfico que apresenta uma série de análises bromatológicas das lâminas foliares de capim Marandú de algumas fazendas que participam do projeto PastoComCiência:


Tabela 1: % de Proteína Bruta da Braquiária Brizantha cv Marandú.
Fonte: Banco de Dados das Fazendas do PastoComCiência

Como podemos verificar, com a entrada da estação seca, que nestas fazendas é por volta de maio, a qualidade do capim reduz. Dentro do planejamento alimentar, temos que ter consciência de que precisamos complementar a nutrição dos animais para que o desempenho não seja comprometido. Os objetivos de ganho podem variar conforme a necessidade do projeto em que se trabalha e, portanto, os níveis e tipos de suplementos devem variar.

Caso não haja uma complementação alimentar, o desempenho dos animais tende a ficar comprometido. Teores de proteína bruta abaixo de 7% na alimentação são limitantes à produção animal (MILFORD e WILSON,  1965), por  resultarem  em  menor  consumo  voluntário  de  forragem  e  redução  dos  níveis  de nitrogênio disponível aos micro-organismos ruminais.

Agora apresentaremos o caso de uma fazenda localizada em São Desidério no Oeste da Bahia, que há 2 anos vem buscando aumentar o desempenho dos animais a pasto na seca. Para isso foi montando um plano de ação, discutido abaixo.

O maior desafio vinha da espécie de capim mais utilizada na propriedade, o Andropogon, que representava vasta maioria do pasto disponível. O Andropon produz muita massa nas águas, mas na seca produz muito pouco, além de perder bastante a qualidade nutricional das folhas, que pode chegar abaixo de 6% de PB com 77 dias pós rebrote (SILVA et al, 2014).

O manejo adotado permitia que o capim passasse do ponto de corte com muita facilidade, levando o dossel a ultrapassar 1 metro de altura e a criar muito talo na entrada da estação seca. Mesmo com ocorrência de algum rebrote na seca, o capim não era suficiente para suportar os animais e obter desempenho.

Imagem 2: Pasto de Andropogon. Junho de 2019.

A primeira ação tomada foi aumentar a área de outra espécie forrageira, o Braquiarão, com objetivo de melhorar a massa de forragem com qualidade adequada para a seca.  O plantio dessa nova área ocorreu em novembro de 2019.

Como já estava planejado, o aumento da área de plantio na fazenda gerou uma baixa lotação no ano, pois não era possível aumentar o rebanho na mesma proporção de aumento da área, pois houve o deslocamento do recurso financeiro para a formação de pastagens. Sabendo disso, a estratégia foi concentrar os lotes nos pastos de Andropogon na estação chuvosa e vedar 100% os pastos de Braquiária a partir de fevereiro, gerando massa suficiente para uso na seca, a partir de maio.

A estratégia permitiu que a altura da Braquiária chegasse, na média, a 60 cm, uma alta massa de forragem estocada, permitindo um suporte superior ao programado. O suporte atingiu 620 Kg de PC/ha, enquanto na mesma época do ano anterior, o Andropogon estava com 320 Kg de PC/ha.

Imagem 3: Pasto de Braquiarão Maio de 2020

 

Veja os desempenhos encontrados:

Tabela 2: Desempenho na seca de diferentes períodos.

Note a grande diferença entre os desempenhos. Ter uma forragem mais apropriada para utilização na época seca do ano permitiu que os ganhos de peso fossem alcançados e ainda aumentou o suporte da seca, colocando mais animais na fazenda.

Vale ressaltar os novos desafios que a fazenda irá enfrentar após essa escolha: a região é composta de solos de baixa fertilidade e a pluviosidade pode ser baixa em alguns anos. Essas eram as razões da escolha do Andropogon, pois ele resiste melhor a estas condições. Gastos com manutenção de fertilidade e riscos de mortalidade e reforma das áreas de Braquiárias estão previstos dentro do projeto atual da fazenda. Cada sistema é único e deve ser avaliado como tal, as decisões não devem ser tomadas sem uma análise e estudo dos impactos.

Outra mudança que a fazenda adotou foi investir mais em nutrição, aumentando o consumo de suplemento dos animais na seca. Antes, o proteinado era de 0,1% do peso corporal e, atualmente, o nível de consumo está em 0,2%. Pelas análises de qualidade do capim, foi necessário ajustar o consumo para atingir os níveis adequados à obtenção de desempenho.

Além disso, atualmente a oferta de forragem (OF) da fazenda é monitorada por satélite: os pastos de Braquiária estavam com 12% de OF em maio de 2020 e, hoje em setembro, estão com 7,2% de OF. Nos anos anteriores, a forragem não era monitorada e, para o próximo ano, 2021, a fazenda irá continuar o acompanhamento de oferta de forragem, visando aumentar a produtividade nas águas e seca. 

Até a próxima postagem!

 

Até a próxima postagem!

 

 

 

 

 

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