Diferimento da pastagem: O que é? Quais suas vantagens? Quais suas limitações? *

*Texto extraído do livro “NA SECA O CAPIM PODE SECAR, MAS O BOI NÃO!”, que pode ser encontrado na LIVRARIA BOM DE PASTO (www.bomdepasto.com)

Por: Manoel Eduardo Rozalino Santos

Professor – Faculdade de Medicina Veterinária/Universidade Federal de Uberlândia

 

O período de seca acontece todos os anos, o que permite que o pecuarista seja capaz de realizar um planejamento prévio para produzir pasto para o rebanho nesta época. Para essa finalidade, o diferimento da pastagem, também conhecido como vedação da pastagem, é apropriado.

O diferimento da pastagem consiste em selecionar determinada área de pastagem, geralmente no fim do período das águas, e retirar os animais dessa área. Com isso, o pasto cresce e a forragem produzida só será consumida pelos animais em pastejo na época de seca do ano (Santos et al., 2022).

O primeiro passo para obter bons resultados com o diferimento da pastagem consiste em obter conhecimento sobre a técnica em si e também sobre as principais características do sistema de produção. Com isso, será possível analisar e decidir se o diferimento da pastagem é compatível com o perfil do sistema produtivo.

Dentre as características positivas do diferimento, destaca-se o fato dele ser uma técnica de manejo relativamente simples e que pode ser adotada com baixo custo operacional. Por isso, o diferimento da pastagem é geralmente uma das primeiras técnicas de manejo a ser adotada visando minimizar os efeitos negativos da estacionalidade da produção de forragem e intensificar o sistema de produção (Rolim, 1994).

Além de resultar em uma reserva de forragem para uso, sob pastejo, na época seca, as plantas florescem e produzem sementes durante o período de diferimento, contribuindo para a regeneração e sustentabilidade da pastagem em algumas situações.

Com o diferimento, também é possível equilibrar o suprimento com a demanda de forragem nas áreas de pastagens. Com isso, pode-se evitar ou diminuir as possíveis consequências negativas da falta de pasto durante a época de seca no sistema produtivo, tais como perda de peso dos animais, ciclo produtivo mais longo, baixa fertilidade/natalidade no rebanho, menor produção animal por área de pastagem e superpastejo nas áreas de pastagens (Santos et al., 2022).

O diferimento da pastagem, ao proporcionar quantidade de massa de forragem adequada na época seca, também viabiliza o fornecimento de suplementos concentrados aos animais na pastagem.

Outro benefício do diferimento é para a recuperação de pastagens em estágios iniciais de degradação, devido à recuperação da cobertura do solo, da área foliar e das reservas orgânicas do pasto (Andrade, 2020).

Por outro lado, existem algumas limitações do diferimento da pastagem. Dentre elas, a mais divulgada diz respeito à baixa qualidade do pasto diferido. A dificuldade de se ter um pasto diferido de boa qualidade na época seca do ano se deve ao clima desfavorável, que diminui ou, em alguns casos, paralisa o crescimento foliar, ao mesmo tempo em que aumenta a senescência (morte de folhas e brotos) do capim.

O diferimento também é uma técnica muito dependente do clima, o que aumenta os riscos de variação da produção de forragem diferida. Portanto, variações climáticas entre anos para uma mesma região provocam diferenças significativas em produção de forragem.

Quando se utiliza o diferimento da pastagem, também há a possibilidade de ocorrer superpastejo (“pasto rapado”) nas pastagens não diferidas durante o outono, época em que normalmente ocorre o período de diferimento nas regiões Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Essas pastagens não diferidas geralmente recebem os animais que estavam na pastagem que foi diferida. Caso as áreas de pastagens não diferidas sejam manejadas com certo grau de subpastejo (“sobra de forragem”) durante a primavera e o verão prévios ao diferimento, haverá maior massa de forragem para consumo dos animais durante o outono. Com isso, o diferimento da pastagem pode ser mais facilmente adotado no sistema de produção. Essa é uma característica comum em sistemas pastoris mais extensivos, que trabalham com baixa taxa de lotação anual.

O diferimento da pastagem tem a desvantagem de não possibilitar grandes mudanças nas taxas de lotação das pastagens, uma vez que o vigor da rebrotação durante o outono e, principalmente, durante o inverno, é limitado por fatores ambientais. De acordo com simulações realizadas por alguns pesquisadores (Santos & Bernardi, 2005), as taxas de lotação potenciais em sistemas que adotam o diferimento da pastagem seriam de 1,24; 1,55 e 1,86 UA/ha no Brasil Central, enquanto na Região Norte, seriam de 1,78; 2,23 e 2,68 UA/ha para solos de baixa, média e alta fertilidade, respectivamente (1 UA = 450 kg de peso vivo).

Além de se conhecer o nível tecnológico (taxa de lotação média) do sistema de produção, para a adoção do diferimento da pastagem, também é importante obter informações acerca de outras características, como:

  • Clima da região.
  • Espécies e cultivares de plantas forrageiras existentes no sistema de produção.
  • Objetivo do pecuarista no que diz respeito às metas de desempenho animal durante a época de seca.
  • Possibilidade de o pecuarista usar outras estratégias de manejo da pastagem em conjunto com o diferimento, como a suplementação e a adubação.

Agora, você já conhece um pouco mais sobre o diferimento da pastagem. Porém, caso decida usar essa tecnologia em seu sistema de produção, saiba que existem várias ações de manejo que podem e, muitas das vezes, devem ser adotadas, para melhorar a produção animal na pastagem diferida. Dentre essas ações de manejo, destacam-se: a escolha do capim; a altura do pasto antes do período de diferimento; a época e a duração do período de diferimento; a adubação da pastagem a ser diferida; o ajuste da taxa de lotação na pastagem diferida; e o uso de suplementos. Mas esses são assuntos para próximos posts.

Até lá!

 

Referências bibliográficas:

ANDRADE, C.M.S. Técnicas de Replantio de Falhas nas Pastagens. Rio Branco, AC: Embrapa Acre, 2016. 16 p. (Embrapa Acre. Circular técnica, 72).

ROLIM, F.A. Estacionalidade de produção de forrageiras. In: PASTAGENS, FUNDAMENTOS DA EXPLORAÇÃO RACIONAL, 1994, Piracicaba. Anais… Piracicaba: FEALQ, p.533-566, 1994.

SANTOS, M.E.R.; ROCHA, G.O.; BORGES, G.S.; OLIVEIRA, D.H.M.; OLIVEIRA, D.M. Diferimento do uso da pastagem In: SANTOS, M.E.R.; MASTUSLLO, J.A. (Orgs.) Todo ano tem seca. Está preparado? São Paulo: Reino Editorial, p. 421-446, 2022b.

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