Qual capim é bom para o diferimento da pastagem? *

*Texto extraído do livro “NA SECA O CAPIM PODE SECAR, MAS O BOI NÃO!”, que pode ser encontrado na LIVRARIA BOM DE PASTO (www.bomdepasto.com)

Manoel Eduardo Rozalino Santos

Professor – Faculdade de Medicina Veterinária/Universidade Federal de Uberlândia

Um dos primeiros aspectos que deve ser observado quando se pretende trabalhar com o diferimento da pastagem é a avaliação das características morfológicas e agronômicas do capim que será utilizado. Nesse sentido, o capim que será manejado sob diferimento tem que ter as seguintes características:

  • Adaptado ao clima (temperatura, precipitação pluvial, fotoperíodo, etc.) da área.
  • Adaptado ao solo (relevo, profundidade, drenagem e fertilidade) da área.
  • Tolerante aos insetos pragas e doenças que, por ventura, ocorram na região.
  • Não deve conter fatores antinutricionais, que prejudiquem o desempenho dos animais.
  • Ser de porte baixo ou possuir reduzida altura natural.
  • Apresentar bom crescimento durante o período de transição seca-águas (outono).
  • Não florescer (pendoar ou produzir cachos) intensamente durante o período de diferimento.

Dentre estas características, as três últimas são as mais relevantes para o diferimento, razão pela qual elas serão analisadas com mais detalhes a seguir.

 

 O capim deve ter porte baixo

Do ponto de vista morfológico, recomenda-se usar capins de porte baixo, porque estes têm talo (colmo) mais fino, quando comparados aos capins de porte alto.

O talo é geralmente produzido em grande quantidade em um pasto diferido, devido à necessidade de deixar o capim crescer por um longo tempo (período de diferimento), para que se acumule uma quantidade suficiente de massa de forragem a ser usada na época seca do ano. O problema é que o talo do capim é de pior valor nutritivo e também dificulta o pastejo dos animais.

Vale salientar que o fato de o capim mais apropriado para o diferimento ter o talo fino também torna o pasto mais sujeito ao tombamento das plantas. Isso acontece, quando o capim cresce por longo período. Neste caso, as plantas ficam muito pesadas e o talo fino não consegue suportar o peso delas, o que causa o tombamento das plantas. Quando isso ocorre, uma alta percentagem da forragem diferida é perdida, isto é, não consegue ser consumida pelos animais, o que resulta em baixa eficiência de pastejo. Por isso, deve-se controlar o desenvolvimento do pasto diferido, o que se consegue principalmente pelo controle da duração do tempo de diferimento.

 

O capim deve crescer bem durante o período de diferimento

Os capins indicados para o diferimento também devem possuir bom potencial de produção de forragem durante os meses de outono, época em que normalmente os pastos permanecem diferidos nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

Em geral, os capins do gênero Brachiaria crescem mais no outono, em comparação aos capins do gênero Panicum. Mas, dentro de um mesmo gênero, existe variabilidade entre os capins. Por exemplo, em um trabalho de pesquisa (Santos et al., 2021) conduzido por dois anos na Universidade Federal de Uberlândia, foi comparada a taxa de produção de forragem dos capins marandu, xaraés, piatã e paiaguás, todos do gênero Brachiaria. Esses capins foram manejados em parcelas durante o período das águas, com as plantas mantidas com 30 cm, via cortes semanais. Os capins também foram adubados na época das águas com 100 kg/ha de N. De março a junho (90 dias), todas as plantas permaneceram em crescimento livre, sem serem cortadas, simulando o período de diferimento. Neste trabalho, os capins paiaguás e xaraés se destacaram pela alta taxa de produção de forragem durante o período de diferimento, em comparação aos capins marandu e piatã (Figura 1).

Figura 1 – Taxa de produção de forragem de cultivares de Brachiaria brizantha durante o período de diferimento (médias de dois anos), em Uberlândia, MG (Santos et al., 2021).

 

O capim não deve pendoar durante o diferimento

Os capins aptos ao diferimento devem ter baixa taxa de redução do valor nutritivo durante o desenvolvimento, característica intimamente relacionada à sua época e intensidade do florescimento5.

Durante o florescimento, ocorre a produção de cachos ou pendões, com as suas sementes. Ao mesmo tempo, também ocorre o intenso alongamento do talo do capim, para pôr as sementes na parte superior do capim e, com isso, facilitar a dispersão delas pelo vento, por exemplo. Porém, o maior crescimento de talo é indesejável do ponto de vista zootécnico, na medida em que o talo tem pior valor nutritivo e pode dificultar o pastejo dos animais, conforme já vimos.

Além disso, após o florescimento, o broto (perfilho) do capim não produz mais novas folhas vivas e, com o tempo, morre, seguindo o ciclo de vida normal dos brotos. Isso acarreta outra consequência negativa: a maior produção de forragem morta no pasto diferido após o florescimento.

 

Capins bons para o diferimento

 Os capins considerados bons para o diferimento da pastagem são aqueles que reúnem as três características destacadas anteriormente: porte baixo, boa produção de forragem e ausência ou pouco florescimento durante o período de diferimento.

Dessa forma, em geral, os capins dos gêneros Brachiaria (B. decumbens, B. brizantha cvs. Marandu, Piatã e Paiaguás) e Cynodon (capins estrela, coastcross e tiftons) são boas opções para o diferimento nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

Atualmente, existem no mercado brasileiro muitas opções de novos capins do gênero Brachiaria, sendo a maioria deles híbridos. Muitos desses capins, por serem de lançamento mais recentes, ainda não possuem informações sobre o seu desempenho e manejo, quando manejados sob diferimento.

Além das braquiárias, também existem alguns capins do gênero Panicum que podem ser usados para o diferimento, principalmente aqueles de porte mais baixo, como os capins massai e tamani.

 

Referências bibliográficas:

SANTOS, M.E.R.; CARVALHO, B.H.R.; FERNANDES, F.H.O.; ROCHA, G.O.; ANDRADE, C.M.S.; MORAES, L.S. Herbage accumulation and canopy structure during stockpiling of Marandu, Piatã, Xaraés, and Paiaguás brachiariagrass cultivars. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 56, p. e02207, 2021.

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