ACÚMULO DE MATERIAL SENESCENTE EM PASTAGENS: CAUSAS E PREJUÍZOS

Bárbara Andrade

Estudante do curso de Zootecnia na UFVJM e  estagiária na EXAGRO

No artigo de hoje, vamos abordar as principais causas do acúmulo de material senescente nas plantas forrageiras, suas principais causas, os prejuízos que podem ocorrer no manejo diário e as estratégias para evitar essas perdas, garantindo assim a qualidade e a quantidade adequada no pasto. Material senescente também pode ser referido como material morto, que é, em geral, a parte amarelada de uma planta forrageira.

Pastagem com grande acúmulo de material senescente, decorrente de época seca.

As gramíneas forrageiras são plantas perenes, o que significa que têm a capacidade de rebrotar após o pastejo ou corte e durantes as novas safras de chuvas. Isso ocorre devido à sua habilidade em emitir novas folhas através dos meristemas, que são estruturas responsáveis pela formação de uma nova folha, permitindo sua sobrevivência.

As folhas desempenham um papel crucial na fotossíntese, pois abrigam organelas chamadas cloroplastos, responsáveis por iniciar todo o processo de captação de dióxido de carbono (CO2) na presença de luz. Resumidamente, a energia capturada por meio das folhas é direcionada para a formação e crescimento de novos perfilhos, resultando no surgimento de novas folhas. O que sobra de energia é armazenado nas raízes das plantas. Quando necessário, as plantas utilizam essa reserva energética para se recuperarem de situações estressantes, como desfolha pelos animais e redução da luminosidade durante períodos secos. No entanto, é de extrema importância que essas plantas realizem a fotossíntese de maneira satisfatória, tanto para a utilização eficiente da energia na formação e desenvolvimento de novos perfilhos e folhas, quanto para o armazenamento de energia nas raízes.

O desenvolvimento das gramíneas forrageiras segue um ciclo que inclui as etapas de germinação, crescimento vegetativo, reprodutivo e senescência.

  • Na fase de crescimento vegetativo, a semente germina, emerge e se transforma em plântula, posteriormente desenvolvendo uma área foliar para captar energia e emitir novos perfilhos.
  • A próxima etapa é o alongamento dos colmos, com produção de folhas e perfilhos, marcando o início da formação das folhas que preencherão os grãos da inflorescência.
  • Na fase reprodutiva, não ocorre mais a emissão de novas folhas e toda a energia absorvida é direcionada para a formação das sementes.
  • Por fim, temos a fase de senescência, quando as folhas mais antigas morrem e se acumulam na parte basal do dossel de folhas.

Aqui estão algumas causas que podem levar à senescência do capim:

  1. Estresse ambiental: Fatores ambientais, como temperaturas extremas, falta ou excesso de água e exposição a substâncias tóxicas, podem causar estresse nas plantas. Esse estresse pode acelerar o processo de senescência do capim, levando ao envelhecimento precoce.
  2. Exaustão de recursos: As plantas dependem de recursos como nutrientes do solo, água e luz solar para crescer e se desenvolver. Quando esses recursos se tornam escassos ou limitados, as plantas podem entrar em senescência como uma resposta adaptativa para conservar energia e priorizar a sobrevivência das partes essenciais.
  3. Fatores genéticos: Alguns tipos de capim podem ter predisposição genética para envelhecer mais rapidamente. Variedades cultivadas por longos períodos podem ter sido selecionadas para características específicas, mas isso pode resultar em uma menor resistência à senescência.
  4. Reprodução: O capim se reproduz principalmente através da formação de sementes, e a fase reprodutiva é uma parte natural do ciclo de vida das plantas. No entanto, quando o capim atinge a fase de reprodução, ele direciona sua energia para a produção de sementes, em vez do crescimento vegetativo. Isso pode levar ao envelhecimento e à senescência das partes aéreas da planta.
  5. Erro de manejo, subpastejo: Deixar o capim crescer além do estágio ideal de maturidade pode resultar em uma forragem de qualidade inferior. À medida que as plantas envelhecem, o teor de fibra aumenta e a digestibilidade diminui, o que pode afetar negativamente a nutrição animal. A falta de pastejo permite o acúmulo de uma alta quantidade de folhas da planta. Por consequência, pela disputa por luminosidade, a planta inicia um processo de alongamento dos colmos em busca de luminosidade, fazendo com que as folhas mais abaixo não consigam ter acesso à luz e acabem morrendo (senescendo).

A relação entre a altura e os componentes da estrutura do pasto, principalmente com a massa de forragem, viabiliza sua utilização como critério prático para definir o momento ideal de pastejo, bem como permite identificar a necessidade ou não de realização de ajustes de carga animal, visando estabelecer condições ótimas de utilização do pasto mediante os principais processos envolvidos no crescimento e utilização das plantas forrageiras sob pastejo.

As figuras abaixo ilustram a relação entre a oferta de forragem e a altura em dois pastos diferentes com a mesma forrageira.

Na figura 1, podemos observar uma boa relação entre altura e folhas verdes. Já a figura 2 apresenta o acúmulo de material senescente na base da planta.

Outras consequências relacionadas ao acúmulo de material senescente na base da planta incluem:

  1. Redução da produção de biomassa: À medida que o capim envelhece, a taxa de fotossíntese diminui, resultando em menor produção de biomassa, como as folhas.
  2. Diminuição da qualidade nutricional: Plantas mais velhas tendem a ter uma composição nutricional inferior, com menor teor de proteínas e nutrientes essenciais.
  3. Aumento da susceptibilidade a doenças e pragas: Plantas em senescência são mais vulneráveis a doenças e ataques de pragas. O enfraquecimento do sistema imunológico das plantas e a deterioração dos tecidos podem facilitar a entrada e proliferação de patógenos.

Para evitar a senescência do capim por subpastejo e promover sua produção adequada, é recomendado adotar práticas de manejo adequadas, como ajustar a carga animal e a taxa de lotação para garantir o pastejo adequado. O manejo rotacionado do pastejo, onde as áreas são alternadamente pastejadas e descansadas, pode ajudar a evitar o subpastejo e permitir a recuperação adequada do capim. Além disso, a adubação adequada e o fornecimento de nutrientes necessários ajudam a manter a saúde e a vitalidade do capim, auxiliando em sua reprodução e retardando a senescência.

Espero que tenham gostado do artigo! Caso tenham dúvidas ou queiram compartilhar suas experiências, fiquem à vontade para deixar um comentário.

 

REFRÊNCIAS

  • BUENO, D. Reserva de energia das plantas Agrotécnico. Disponível em: <https://www.agrotecnico.com.br/reserva-de-energia-das-plantas/>.
  • FAGUNDES, Jaílson Lara et al. Índice de área foliar, interceptação luminosa e acúmulo de forragem em pastagens de Cynodon spp. sob diferentes intensidades de pastejo. Scientia Agricola, v. 56, p. 1141-1150, 1999.
  • GENRO, Teresa Cristina Moraes; SILVEIRA, MCT da. Uso da altura para ajuste de carga em pastagens. Comunicado técnico, Planaltina, DF: Embrapa Pecuária Sul,
  • Manejo de pastagens. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/zootecnia/ANACLAUDIARUGGIERI/manejo_de_pastagem.pdf.
  • NABINGER, Carlos. Eficiência do uso de pastagens: disponibilidade e perdas de forragem. Simpósio sobre manejo da pastagem, v. 14, p. 213-251, 1997.
  • Pastagem: como explicar a perda de forragens? Disponível em: https://www.cpt.com.br/dicas-cursos-cpt/pastagem-como-explicar-a-perda-de-forragens.
  • ROSA, F. Q.; BREMM, C.; MACHADO, D. R. Efeito da oferta de forragem na estrutura do pasto. In: CARVALHO, P. C. de F.; WALLAU, M. O.; BREMM, C.; BONNET, O.; TRINDADE, J. K. da; ROSA, F. Q.; FREITAS, T. S. de; MOOJEN, F. G. Nativão: 30 anos de pesquisa em campo nativo. Porto Alegre: UFRGS. 2017. p. 23-25.

Deixe um comentário

Seu email não será publicado.