Fatores que afetam o planejamento da taxa de lotação das pastagens para a época seca do ano

Diogo Olímpio
Consultor Exagro

A taxa de lotação desejada, chamada de capacidade suporte, para o período seco do ano pode ser calculada com base no estoque de forragem disponível no período e a oferta de forragem desejada.

A oferta de forragem (OF) é a relação entre a massa de forragem (kg de MS) e o peso corporal dos animais presentes na área (kg de peso corporal, PC). Para exemplificar, uma oferta de forragem de 8% significa que em determinada data há 8 kg de MS sendo ofertados para cada 100 kg de PC presentes na área de pastagem. De forma resumida, é a determinação da quantidade de forragem que será disponibilizada para animais selecionarem no ato do consumo.

O outro fator que influenciará na capacidade de suporte da seca, além da determinação da OF, é o estoque de forragem disponível, consequência da produção de forragem durante o período e a massa acumulada do período anterior.

A produção de forragem durante o período da seca é baixa, em função da baixa pluviometria e baixas temperaturas em algumas regiões (estacionalidade da produção). A produção depende também da espécie forrageira presente na fazenda. As diferentes espécies possuem potencial de produção distintos, que são determinados geneticamente, e ainda sofrem variações de acordo com as condições do meio em que são produzidas (JANK et al., 2013).

Com a baixa produção de forragem para o período da seca, o estoque de forragem acumulado do período anterior (águas) torna-se importante para determinação do suporte na época.

Neste sentido, Barioni et al. (2005) abordaram o conceito de orçamento forrageiro, que consiste na flutuação de estoque de pasto baseada no fluxo de entrada (produção) e saída de forragem (consumo animal mais perdas). Estratégias que alteram a produção de capim (fluxo de entrada) e o consumo de forragem vão impactar no estoque futuro (Figura 1).

 

Figura 1. Esquema dos fatores que interferem no estoque futuro de forragem. Adaptado de Barioni et al. (2005).

 

Considerando que o estoque final, de acordo com o fluxograma acima, seja o estoque de forragem do final das águas ou início da seca, é necessário entender os processos de acúmulo e consumo de forragem durante o período das águas.

O processo de produção de forragem é influenciado pelas espécies forrageiras, fertilidade do solo e adubação, condições climáticas e manejo.

Em relação ao manejo ao longo das águas para cada forrageira, pastos dos gêneros Panicum e Andropogon, por exemplo, têm crescimento cespitoso e maior potencial de alongamento precoce de colmo, o que pode resultar em redução acentuada de qualidade em situações de maior altura. Por outro lado, pastos do gênero da Brachiaria têm melhor relação folha:colmo e são de eleição para acúmulo de forragem durante o período das águas para ser utilizado na seca, semelhante às estratégias de escolha de espécies para diferimento das pastagens. Assim, em fazendas com maior proporção de Brachiaria, é possível realizar maior acúmulo de forragem durante o período das águas, enquanto, em fazendas com maior proporção de Panicum e Andropogon, a estocagem em excesso de capim pode ser prejudicial para a qualidade do pasto no período seco.

O processo relacionado ao consumo (mais perdas) de forragem durante o período das águas é influenciado pelo manejo adotado e pelo rebanho presente na fazenda (categorias, número de cabeças e peso médio), representado pela taxa de lotação em UA/ha ou kg de peso vivo/ha.

Todos os sistemas podem adotar a estratégia de utilizar o estoque de pasto produzido nas águas durante a seca, porém cada sistema e as variações das tecnologias existentes na fazenda influenciam no grau de utilização dessa estratégia. Vamos aos exemplos!

Um sistema de recria e engorda, com compra de garrotes de 12@ em novembro e venda no final do período das águas com 18@ necessitaria de menor estoque de forragem para o período de seca, sendo que quase todo o capim produzido durante o período das águas poderia ser aproveitado para o consumo. Assim, a taxa de lotação do período das águas é máxima e taxa de lotação da seca, mínima.

No outro extremo, temos sistemas de cria com boa taxa de prenhez e venda apenas das vacas vazias e bezerros machos na desmama. Neste caso, todo o estoque de vacas prenhas, bezerras desmamadas e novilhas em recria permanece na fazenda durante a seca. Neste sistema, deve haver excedente da forragem produzida durante a época das águas, que será consumido durante o período seco. Além dos dois exemplos extremos, em termos de aproveitamento de pasto na época das águas, temos os demais sistemas que são comumente encontrados no Brasil e que necessitam de algum grau de sobra de capim durante a época das águas: cria, recria e engorda; recria e engorda com compra de bezerros; cria, recria e engorda com compra de gado, entre outras variações.

Outras tecnologias adotadas vão influenciar a orçamentação forrageira, como a utilização do confinamento, adubação de pastagens, utilização do sistema de integração lavoura-pecuária, uso de suplementos de maior consumo, entre outras, e devem ser consideradas no planejamento da taxa de lotação das águas e seca.

Dessa forma, a taxa de lotação da seca é influenciada pela produção de capim ao longo do ano e estoque de capim no início da seca, consequência da relação dinâmica entre o acúmulo de forragem e o aproveitamento da forragem produzida pelos animais. Essa relação, por sua vez, é consequência de vários fatores como: proporção de espécies forrageiras presentes na área, fatores climáticos, adubação e correção do solo, taxa de lotação durante período das águas, manejo de pastagem, entre outros.

Até o próximo post!

Referências

BARIONI, L. G.; RAMOS, A. K. B.; MARTHA JUNIOR, G. B.; FERREIRA, A. C.; SILVA, F. A. M.; VILELA, L.; VELOSO, R. F. Orçamentação forrageira e ajustes em taxas de lotação. In: Simpósio sobre manejo da pastagem. Piracicaba: Fealq, 2005. p. 217-244.

JANK, L.; BRAZ, T. G. S.; MARTUSCELLO, J.A. Gramíneas de clima tropical. In: Forragicultura: ciência, tecnologia e gestão dos recursos forrageiros. Jaboticabal: Maria de Lourdes Brandel, 2013. p. 109-123.

SOUSA, D.O.C.; SILVA, M.V.P.; VIEIRA, A.R. Usando o estoque de pasto das águas na época seca do ano. In: SANTAOS, M.E.R.; MARTUSCELLO, J.A. (org.). Todo ano tem seca! Está preparado? Estratégias para produção e uso do pasto na época seca. 1. ed. São Paulo: Reino Editorial, 2022. p. 179-200

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