Integração Lavoura-Pecuária (ILP): Benefícios e Desafios

Bárbara Andrade
Estagiária Exagro

A integração lavoura-pecuária, ou ILP, é uma abordagem inovadora na agricultura que combina cultivos agrícolas e criação de gado em um mesmo sistema produtivo. Essa prática tem ganhado destaque nos últimos anos devido aos inúmeros benefícios que oferece, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. A integração lavoura-pecuária representa uma alternativa sustentável e eficiente para a produção de grãos e, forragens, contribuindo para a melhoria da produtividade rural e a conservação dos recursos naturais.

No entanto, assim como qualquer sistema agrícola, a ILP também apresenta desafios que demandam atenção. Neste contexto, este artigo explorará os benefícios e desafios da integração lavoura-pecuária. A seguir, destacamos suas principais vantagens tanto para a agricultura durante a safra quanto para a pecuária na entressafra:

  • BENEFÍCIOS DA PECUÁRIA PARA A LAVOURA:

Através da integração lavoura-pecuária (ILP), a agricultura também obtém benefícios significativos, que incluem a rotação de culturas para um plantio mais eficiente, aprimorando as condições químicas, físicas e biológicas do solo, aumentando a capacidade de retenção de água e aprimorando a cobertura do solo. Veja alguns exemplos:

a) Quebra no ciclo de pragas e doenças:

  • A integração lavoura-pecuária (ILP) envolve uma frequência maior de rotação entre culturas anuais e forrageiras, o que reduz incidência de pragas e doenças, quebrando seus ciclos.
  • Também contribui para a redução do banco de sementes de plantas daninhas devido à maior competição com as forrageiras.

b) Recuperação física, química e biológica do solo (perfil do solo):

  • As raízes abundantes e agressivas das forrageiras tropicais, juntamente com a constante emissão de novas raízes, promovem a reciclagem de nutrientes e depositam grandes quantidades de matéria orgânica na superfície e no perfil do solo.
  • A ILP estimula a atividade biológica no solo, permitindo a aeração em profundidade, benefícios que seriam difíceis de alcançar com métodos convencionais.

c) Melhoramento da estrutura do solo:

  • A rotação de culturas na ILP leva ao aumento da matéria orgânica e de exsudados das raízes, resultando em uma melhor porosidade do solo e maior capacidade de armazenamento de água.
  • Essa prática também estimula o crescimento das raízes das culturas anuais, contribuindo para uma estrutura de solo mais favorável.

d) Armazenamento de água no solo:

  • O armazenamento de água é favorecido pela frequente aeração biológica do solo e pelo aumento do teor de matéria orgânica proporcionados pela ILP.

e) Cobertura do solo:

  • Além de produzir forragem para os animais, as espécies forrageiras desempenham um papel crucial na cobertura do solo durante o Sistema Plantio Direto (SPD) na transição para a agricultura.
  • A palhada proveniente das forrageiras protege a superfície do solo, reduz a evaporação de água, dificulta o crescimento de plantas daninhas e reduz o risco de infestação por fungos do solo nas plantas cultivadas, desde que seja gerenciada adequadamente.
Figura 1/ fonte: Instagram: Leandro_solofertil

f) Efeito da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) na Produção de massa de forragem:

  • Em um estudo conduzido por Aidar et al. (2003), foi observado que os cultivos de braquiária após o consorcio com milho produziram maiores valores de biomassa, atingindo até 17 toneladas por hectare de matéria seca (MS).
  • Três meses após a dessecação, ainda havia cerca de 9 toneladas de resíduos no solo.

g) Rendimento da Soja em Áreas Anteriormente Ocupadas com Braquiária:

  • Broche et al. (1997) constataram que o rendimento da soja foi maior quando cultivada sobre os resíduos de Brachiaria brizantha.
  • No entanto, ao longo de três anos de cultivo sucessivo apenas da soja, o rendimento decresceu de 3.500 kg/ha para 3.100 kg/ha.

 

  • BENEFÍCIOS DA LAVOURA PARA A PECUÁRIA:

a) Rapidez e Economia:

  • A integração lavoura-pecuária (ILP) facilita a recuperação ou renovação de pastagens de forma mais rápida e econômica.
  • Quando se mantém a mesma espécie forrageira ou se faz a troca, a agricultura permite um retorno mais rápido do capital investido, pois é possível produzir grãos em quatro a seis meses.
  • O solo de melhor qualidade resulta em maior quantidade e qualidade da forragem produzida, seja no sistema consorciado ou em sucessão.

b) Fornecimento de Adubo Residual:

  • As forrageiras em sucessão, rotação ou consorciação se beneficiam dos nutrientes minerais deixados pelas culturas anuais que não foram absorvidos, observe na figura abaixo como a ciclagem acontece:

  • No caso da sucessão ou rotação com a cultura da soja, as forrageiras também podem aproveitar os mais de 100 kg/ha de nitrogênio fixado simbioticamente pela leguminosa.

c) Produção de Forragem na Época Mais Crítica do Ano:

  • Durante a entressafra, podem-se semear forrageiras anuais como milho forrageiro, sorgo silagem, sorgo pastoreio, milheto e aveia em regiões com invernos mais frios. Isso permite a produção de alimento para o gado tanto em pastagem como suplemento por meio de feno e silagem.
  • Também é possível semear forrageiras perenes após a cultura anual na safrinha, embora o estabelecimento seja parcialmente comprometido devido a fatores climáticos, resultando em menor produção de forragem na estação seca. Forrageiras perenes, como as braquiárias, tendem a ser mais produtivas no primeiro ano após a implantação, permanecendo verdes durante a maior parte do período seco.
  • Um exemplo prático pode ser facilmente visualizado na figura abaixo, que demonstra claramente a quantidade de massa disponível durante períodos de escassez de forragem.:

 

Por outro lado, embora a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) seja reconhecida como uma abordagem altamente benéfica na agropecuária, é importante destacar alguns desafios que merecem atenção especial:

  • Manejo Integrado: Coordenar as operações agrícolas e pecuárias de forma eficaz exige um planejamento cuidadoso e uma gestão precisa. O desafio está em equilibrar as necessidades de ambas as atividades para maximizar os benefícios.
  • Infraestrutura e Investimento: A implementação da ILP muitas vezes exige investimentos em infraestrutura, equipamentos, animais, cercas adequadas e instalações para o gado.
  • Condições Climáticas Variáveis: As condições climáticas imprevisíveis podem afetar tanto a agricultura quanto a pecuária. É necessário adaptar o planejamento e as práticas de manejo para lidar com variações climáticas, como secas ou chuvas excessivas.
  • Capacitação Técnica: Agricultores e pecuaristas precisam adquirir conhecimento e habilidades específicas para implementar com sucesso a ILP. O desafio está em fornecer a capacitação técnica necessária para uma adoção eficaz.
  • Aspectos Econômicos: A transição para a ILP pode exigir mudanças nos sistemas de produção e nos mercados, o que pode ter implicações econômicas. O desafio está em avaliar e adaptar os sistemas de negócios para garantir a viabilidade econômica a longo prazo.

Embora a ILP ofereça benefícios significativos, superar esses desafios requer planejamento, comprometimento e a adoção de práticas sustentáveis para garantir o sucesso dessa abordagem integrada na agropecuária.

 

REFÊRENCIAS

  • AIDAR, H.; RODRIGUES, J. A. S.; KLUTHCOUSKI, J. Uso da integração lavoura-pecuária para produção de forragem na entressafra. KLUTHCOUSKI, J.; STONE, LF & AIDAR, H. Integração Lavoura-Pecuária. Santo Antonio de Goiás, Embrapa Arroz e Feijão, p. 225-262, 2003.
  • D.I. Soia PD em brachiária. Direto no Cerrado, Brasília, v.2, n.4, p. R9, Jan. mar. 1997.
  • DE OLIVEIRA, I. P. et al. Sistema Barreirão: recuperação/renovação de pastagens degradadas em consórcio com culturas anuais. 1996.

 

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