Importância dos macrominerais em pastagens

Marcelo Valdrighi
Trainee Exagro

Em sistemas de produção animal baseados em pastagem, um dos grandes obstáculos que se tem para manutenção da viabilidade técnica e econômica ao longo dos anos é o declínio da produtividade das pastagens com o passar do tempo, em outras palavras, degradação das pastagens.

Os estudos apontam que a maior parte das áreas de pastagem brasileiras apresentam algum grau de degradação e que este cenário acarreta índices produtivos e econômicos abaixo do potencial da pecuária brasileira. Quando se consideram as causas de degradação das pastagens, temos os seguintes fatores: estabelecimento inadequado da espécie forrageira, manejo de pastagem inadequado e falhas na correção da fertilidade e reposição de nutrientes no solo. Partindo deste princípio, além de conhecer as melhores práticas de manejo em sistemas de pastagem, é de suma importância o conhecimento dos fatores relacionados aos nutrientes e a nutrição de plantas forrageiras.

 

Quando se estuda a nutrição de plantas é interessante notar a composição vegetal em cada grupo de elementos para se ter conhecimento da proporção e dos nutrientes envolvidos. Cerca de 92% da matéria seca das plantas é composta pelos elementos Carbono (C), Hidrogênio (H) e Oxigênio (O). Os 8% restantes são formados por macro e microminerais absorvidos do solo. O C é obtido do ar atmosférico na forma de gás carbônico (CO2) e o H e O são obtidos da água. Assim, sabe-se que as plantas captam seus nutrientes em 3 sistemas: o solo, o ar e a água. Apesar dos 8% oriundos do solo serem a minoria, são eles os mais discutidos e estudados pela nutrição de plantas e os mais onerosos aos sistemas de produção agropecuários.

Analisando a composição química vegetal, encontra-se uma série de elementos químicos, mas nem todos são considerados nutrientes para as plantas. Os nutrientes são aqueles elementos essenciais às plantas, os quais sem eles a planta não vive. Na literatura são considerados 16 nutrientes essenciais às plantas, incluindo C, H, O, além dos macros e micronutrientes. Hoje vamos falar dos macronutrientes, suas principais características e funções nas plantas, com foco em forrageiras.

Os macronutrientes são aqueles exigidos em maiores quantidades, em comparação com os micronutrientes. São expressos em porcentagem ou em g/kg de matéria seca e seu grupo é composto pelos seguintes elementos: Fósforo (P), Nitrogênio (N), Potássio (K), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S).

Fósforo (P)

O fósforo, juntamente com o nitrogênio, é considerado um dos principais nutrientes limitantes à produção forrageira no Brasil. Isso se deve ao fato de os solos brasileiros serem pobres em fósforo, e também à característica do fósforo em apresentar forte interação com os componentes do solo, fazendo com que ele se ligue a estes componentes e se torne indisponível para as plantas. Esses e outros fatores, além de serem obstáculo à produção forrageira, tendem a diminuir a eficiência das adubações fosfatadas. Após a aplicação de fosforo no solo via adubo, ocorrem uma série de reações e o fósforo pode passar para a fase sólida ou líquida do solo. O fosforo na fase líquida é prontamente disponível para as plantas; já na fase sólida, parte do fósforo retido pode ficar indisponível.

Outra característica que limita a disponibilidade do fósforo para as plantas é a sua baixa mobilidade no solo. O fósforo se move no solo por difusão (transporte em que o elemento se desloca de onde sua concentração é maior para onde sua concentração é menor) e esse tipo de movimentação é caracterizado por percorrer pequenas distâncias. Portanto, a aplicação do fósforo de forma localizada, como no sulco de plantio, favorece a absorção do nutriente pela planta, principalmente porque logo após o plantio, nas fases iniciais de crescimento das plantas, a exigência de fósforo é elevada.

Dentre as funções do fósforo na planta, pode-se destacar as funções estruturais, onde o fósforo tem papel importante como componente de compostos essenciais para as plantas, e funções metabólicas, onde existe a participação do fósforo em diversos processos metabólicos, como síntese proteica, divisões celulares, fotossíntese, entre outras reações. Além disso, o fósforo desempenha papel relevante na nutrição de plantas influenciando o maior desenvolvimento do sistema radicular e maior perfilhamento, que são fatores fundamentais à persistência e produtividade das forrageiras.

Em pastagens, a importância do fósforo está relacionada principalmente à fase de estabelecimento. Sendo um nutriente que afeta o enraizamento e o perfilhamento da planta, a limitação de fósforo pode ocasionar menor vigor da pastagem e aparecimento de espaços livres entre a população de plantas, p que predispõe a infestações por invasoras.

Nitrogênio (N)

O nitrogênio é um dos macronutrientes mais exigidos pelas plantas e extremamente dinâmico no sistema solo. O grande dinamismo do nitrogênio se relaciona à sua mobilidade no solo, além das transformações que pode sofrer. O grande estoque de nitrogênio terrestre está na atmosfera, onde este nutriente se encontra na forma gasosa. Para o nitrogênio ser utilizado pelas plantas, é necessária a transformação da sua forma gasosa para a forma orgânica ou inorgânica, processo denominado fixação do nitrogênio.

A fixação pode ser atmosférica, mediada por calor e descargas elétricas, industrial, pelo uso de fertilizantes nitrogenados, ou biológica, realizada por alguns microrganismos presentes no solo. Para saber mais sobre a fixação biológica do nitrogênio, confira esse post sobre o uso de Crotalária como fonte de adubo na reforma de pastagens:

Uso da Crotalária como fonte de adubo na reforma de pastagens

O nitrogênio é o principal nutriente relacionado à produtividade das gramíneas forrageiras, uma vez que é essencial na formação das proteínas e outros componentes relacionados à síntese de constituintes da estrutura vegetal. Assim, o nitrogênio se relaciona ao porte da planta, tamanho das folhas e colmos, aumento do número e aparecimento de perfilhos.

Para uma boa adubação nitrogenada em pastagens, é fundamental conhecer a exigência de nutrientes pelas plantas, uma vez que o aumento nas doses de adubação nitrogenada também aumenta a extração de outros nutrientes, que precisam estar disponíveis em quantidades satisfatórias para as plantas para que haja a resposta esperada.

Além disso, o dinamismo do N no solo faz com que ele possa ser perdido do sistema solo-planta, principalmente por volatilização, o que tende a reduzir a eficiência do uso de fertilizantes nitrogenados. Portanto, para se ter eficiência na adubação nitrogenada, também é preciso conhecer os fatores climáticos, de solo e de manejo relacionados às perdas de nitrogênio no solo.

Potássio (K)

O potássio é um nutriente absorvido em grandes quantidades pelas plantas, reconhecido como nutriente importante para maior resistência das plantas a condições climáticas adversas e ao ataque de pragas e doenças. Seu comportamento no solo é simples, em comparação com fósforo e nitrogênio, e a adubação potássica também é pouco complexa. No solo, a principal forma do potássio é a mineral. Sua movimentação ocorre principalmente por difusão, o que não é um fator limitante, porque a concentração de potássio no solo não é baixa como a de fósforo.

O potássio na planta, ao contrário do nitrogênio, não apresenta função estrutural, sua principal função nas plantas é metabólica. Assim, a deficiência deste nutriente promove queda acentuada no metabolismo das plantas.

No solo, o potássio pode se mover para partes mais profundas pela lixiviação e ficar fora do alcance das plantas. Isso deve ser considerado principalmente quando se trabalha em solos mais arenosos, onde a capacidade de reter o potássio é menor. Outro fator que pode predispor à maior lixiviação do potássio é a aplicação localizada no sulco de plantio, onde o potássio se concentra em uma parte menor do solo, ficando mais sujeito à lixiviação. Na aplicação a lanço, o contato deste nutriente com o solo é maior, o que favorece a sua ligação no solo e diminui as chances de perdas para partes mais profundas.

Cálcio (Ca)

O cálcio é o nutriente que se destaca pela importância que exerce sobre o crescimento radicular. Em solos ácidos, o crescimento radicular pode ser comprometido, principalmente abaixo da camada arável, devido a disponibilidade reduzida de cálcio. No solo, o cálcio se encontra na forma mineral e sua dinâmica é simples, como a do potássio e magnésio, diferente da dinâmica do fósforo e do nitrogênio.

A aplicação de cálcio no solo normalmente se dá ligada à prática de calagem. No entanto, a prática de calagem não corrige os teores do cálcio em profundidade no solo e, como o cálcio é imóvel nos tecidos das plantas, o cálcio absorvido na parte mais superficial do solo não é deslocado para as raízes mais profundas, o que torna o crescimento radicular mais superficial e as plantas mais susceptíveis a veranicos caso haja deficiência de cálcio em profundidade no solo. Para a correção da concentração do cálcio em profundidade, o uso do gesso é a prática mais recomendada.

Dentre as funções do cálcio na planta, destaca-se a função estrutural, incrementando a resistência mecânica dos tecidos das plantas. Além disso, o cálcio também possui papel importante fora da planta, pois as concentrações adequadas de cálcio no solo e em equilíbrio com outros elementos é fator primordial ao crescimento do sistema radicular.

Para saber mais sobre a relação entre cálcio, acidez do solo e sistema radicular, acesse o post sobre correção da acidez dos solos, revisão e importância no link abaixo:

Correção da acidez de solos: revisão e importância

Magnésio (Mg)

Da mesma forma que o cálcio, a dinâmica do magnésio no solo também é simples, sendo um nutriente que também é fornecido nas práticas de calagem. Em solos ácidos, outro fator agravante à sua disponibilidade é a elevada concentração de hidrogênio e alumínio que diminuem sua absorção. Outra causa de deficiência de magnésio ocorre em casos de adubações elevadas com potássio, porque o excesso de potássio pode inibir a absorção de magnésio por competição.

Sua função na planta é principalmente metabólica, relacionada a processos vitais como respiração, fotossíntese e outras reações.

Enxofre (S)

O enxofre, assim como o nitrogênio, também sofre uma série de transformações no solo, mediadas principalmente por microrganismos. A maior parte do enxofre no solo está na matéria orgânica. Solos arenosos e com baixo teor de matéria orgânica podem ser incapazes de suprir a planta com este elemento em quantidades satisfatórias. O enxofre, na sua forma orgânica no solo, é convertido em forma mineral para ser aproveitado pelas plantas.

Sobre as funções do enxofre na planta, pode-se dizer que este elemento desempenha diversas funções como estruturais, sendo componente de aminoácidos e proteínas, além de ser constituinte de enzimas e de participar de processos metabólicos.

Considerações finais

Após ressaltar o papel e a importância de cada nutriente no sistema solo-planta-animal, é importante considerar que um programa de reposição de nutrientes no solo vai além do conhecimento dos nutrientes propriamente dito. Além de outros fatores agronômicos a serem considerados, existem premissas estratégicas e gerenciais de cada empreendimento pecuário que precisam estar alinhadas com o programa de adubação, para se ter eficiência econômica além de eficiência produtiva.

Também é importante lembrar que, no ambiente de pastagens, a eficiência no uso de nutrientes é promovida de forma direta pela alta eficiência na utilização da forragem produzida, independente da adubação empregada (Hodgson 1990).

Referências

Costa, KA de P., I. P. de Oliveira, and Valdemar FAQUIN. “Adubação nitrogenada para pastagens do gênero Brachiaria em solos do Cerrado.” (2006).

Dias, Daniel G., et al. “Produção do capim Piatã submetido a diferentes fontes de fósforo.” Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental 19 (2015): 330-335.

Faquin, Valdemar. “Nutrição mineral de plantas.” (2005).

Martha Júnior, G. B., and Lourival Vilela. “Pastagens no cerrado: baixa produtividade pelo uso limitado de fertilizantes.” (2002).

VILELA, L., G. B. MARTHA JUNIOR, and D. M. G. de SOUSA. “Uso eficiente de corretivos e fertilizantes em pastagens.” Embrapa Cerrados-Artigo em periódico indexado (ALICE) (2020).

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