Maria Erika Picharillo
Analista de sustentabilidade AgroHUB
Olá, Caro Leitor!
As propriedades agropecuárias têm um papel fundamental no cenário global das emissões de gases de efeito estufa (GEE). A atividade agrícola é responsável por uma parcela significativa das emissões de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). Entretanto, as fazendas também podem ser uma solução para a redução dessas emissões através da adoção de práticas sustentáveis que visam o sequestro de carbono na forma de matéria orgânica do solo e vegetação.
Neste contexto, é importante entender as principais atividades dentro da fazenda que estão envolvidas nas emissões e/ou remoções de GEE. As atividades primordiais envolvidas no balanço de carbono, incluindo criação dos animais, manejo do solo e produção de culturas, serão apresentadas neste artigo.
No panorama brasileiro das emissões, o setor agropecuário registrou a participação de 477,67 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), ocupando o segundo lugar em termos de emissões de gases de efeito estufa gerados pelo país em 2020, conforme ilustrado pela barra amarela no gráfico abaixo:
Figura 1. Emissões setoriais do Brasil, em dióxido de carbono equivalente (CO2e) de 1990 a 2020.
Nesse mesmo ano (2020), os setores Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Florestas (LULUCF), Agropecuária e Energia tiveram participação de 38,0%, 28,5% e 23,2% nas emissões totais, respectivamente. A maior parte das emissões do setor Agropecuária provém do rebanho bovino, representado pelo subsetor Fermentação Entérica, com uma contribuição de 57% do total das emissões do setor agropecuário (Brasil, 2022).
Dentro da sua propriedade, você sabe quais os pontos responsáveis pelas emissões de GEE?
De acordo com o GHG Protocol, ferramenta que abrange padrões de contabilização de GEE para o setor agropecuário no Brasil, o rebanho bovino, a aplicação de insumos, o uso de combustíveis e energia elétrica, a adoção de práticas específicas de manejo de culturas e o uso do solo são responsáveis pela emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Esses itens são descritos com mais detalhes a seguir:
- Rebanho Bovino
A fermentação entérica gerada pelos bovinos é a maior responsável pelas emissões de CO2e do setor agropecuário. Essa fermentação é um processo natural que faz parte da digestão dos alimentos pelos ruminantes. Nesse processo, é liberado o metano através da eructação ou mais conhecido como ‘arroto do boi’. O metano tem potencial de aquecimento global 21 vezes maior que o CO2, o que gera participação significativa do rebanho bovino nas emissões oriundas das atividades pecuárias. Além disso, os dejetos gerados pelos bovinos são responsáveis pelas emissões de óxido nitroso (N2O), metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). É importante ressaltar que o manejo dos dejetos, tratados ou amontoados, também contribuem para as emissões de GEE, sendo necessário realizar a contabilização dessas emissões.
- Uso de insumos
A utilização de insumos, como adubos (nitrogenados e orgânicos) e corretivos (calcário, gesso), pode gerar emissões de N2O e/ou o CO2. Apesar da atuação na participação das emissões, a aplicação desses insumos propicia o crescimento de raízes, que são responsáveis pelo sequestro de carbono. Logo, a utilização estratégica desses insumos pode contribuir para o aumento de produtividade de forma sustentável.
- Uso de combustíveis e biocombustíveis
O uso de combustíveis pela propriedade ao longo do ano, como diesel, gasolina e etanol, são responsáveis pelas emissões de CO2, N2O e CH4. No balanço, é levada em consideração a quantidade utilizada dentro do ano pela propriedade.
- Uso de energia elétrica
É importante ressaltar que as emissões de GEE não estão diretamente relacionadas ao uso de energia elétrica em si, mas sim ao processo de geração dessa energia. No balanço, é levada em consideração a quantidade de MWh comprada pela propriedade ao longo do ano. O gás resultante da emissão dessa atividade é o CO2.
- Manejo e Uso do solo
Pastagens em degradação ou degradadas emitem CO2 por causa da perda de carbono orgânico do solo. Quando a pastagem é mal gerenciada, ocorre uma diminuição da matéria orgânica no solo. A matéria orgânica é composta por resíduos de plantas e animais, como raízes, folhas e restos de plantas, que se decompõem no solo e são transformados em carbono orgânico.
Quando a matéria orgânica é perdida, o solo perde sua capacidade de reter água e nutrientes, além de se tornar mais compactado, o que dificulta a penetração de raízes e diminui a atividade biológica no solo. Isso resulta na emissão de CO2, pois a degradação da matéria orgânica é um processo de respiração, que libera CO2 para a atmosfera.
Você sabia que a sua propriedade também retém carbono? Veja abaixo os pontos responsáveis pela retenção de CO2.
- Manejo e Uso do solo
Propriedades agropecuárias também podem reter CO2 do meio, através da utilização de práticas que viabilizam o aumento de produtividade forrageira e adequado manejo de pastagens.
As pastagens bem manejadas, melhoradas com ou sem insumos, podem ser capazes de sequestrar CO2 pelo processo de crescimento fotossintético e fixação de carbono nas estruturas orgânicas. Dessa forma, o solo pode ser considerado um ‘sumidouro’ de carbono e a adoção de práticas de manejo e uso de tecnologias relacionadas ao uso sustentável desse solo torna possível compensar as emissões geradas e, em alguns casos, gerar créditos excedentes de carbono.
O balanço de Carbono
Para estimar o balanço de Carbono, é necessário compilar todas as informações citadas acima, tanto as responsáveis pelas emissões, quanto pelo sequestro, e calcular as somas em CO2e, de forma a realizar o balanço final. Caso a fazenda fique com um balanço negativo, significa que ela está sequestrando carbono do ambiente. Caso fique com um balanço positivo, significa que ela está emitindo carbono para o ambiente. O resultado é expresso em toneladas de carbono equivalente (tCO2e).
No caso, para estimar o balanço de C, as propriedades agropecuárias precisam:
- Levantar as áreas de ocupação do solo, em hectares, e classificá-las em pastagens, floresta nativa e uso para plantio de culturas como milho, soja, algodão, arroz, cana-de-açúcar, trigo e feijão. Além do levantamento, é necessário obter os dados sobre a classificação dos sistemas de cultivo, como: cultivo convencional, pastagem moderadamente degradada, pastagem severamente degradada, pastagem melhorada, pastagem melhorada com insumos, plantio direto e integração lavoura-pecuária;
- Acompanhar o histórico de uso das áreas citadas anteriormente;
- Acompanhar e registrar os dados de insumos utilizados ao longo do ano, como uso de adubos ou corretivos (kg/ha), combustíveis (l) e energia elétrica (MWh);
- Controlar os dados relacionados ao estoque do rebanho, ou seja, a quantidade de animais (machos e fêmeas) por categoria (bezerros, garrotes, novilhas, touros e vacas) e peso médio.
Os maiores desafios encontrados atualmente, e que dificultam o cálculo do balanço de carbono das fazendas, são a falta de controle e gerenciamento dos dados necessários para o cálculo.
Em um próximo artigo, iremos descrever as possíveis ações que podem ser realizadas dentro da fazenda para otimizar a remoção de carbono.
Referência:
BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Secretaria de Políticas para a Formação e Ações Estratégicas. Coordenação-Geral do Clima. Estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. 6. ed. Brasília: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, 2022.
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