Quando e por quanto tempo o pasto pode ficar diferido?

*Texto extraído do livro “NA SECA O CAPIM PODE SECAR, MAS O BOI NÃO!”, que pode ser encontrado na LIVRARIA BOM DE PASTO (www.bomdepasto.com)

 

Manoel Eduardo Rozalino Santos

Professor – Faculdade de Medicina Veterinária/Universidade Federal de Uberlândia

 

O período de diferimento é o tempo em que a pastagem fica sem animais, acumulando forragem para ser pastejada durante a época de seca. Vários fatores devem ser levados em consideração para o controle da duração do período de diferimento e, dentre eles, destacam-se:

  • O clima da região.
  • A espécie de planta forrageira utilizada.
  • A fertilidade do solo.
  • A possibilidade de uso de adubos.
  • A altura do pasto no início do período de diferimento.
  • O objetivo do pecuarista.
  • O uso de suplementos alimentares.

A importância do controle do período de diferimento reside no fato de que essa ação de manejo determina as características do pasto diferido e, consequentemente, tem efeito sobre o desempenho dos animais que consomem a forragem diferida (Quadro 1).

As principais desvantagens da utilização de períodos de diferimento longos são o baixo valor nutritivo da forragem e a pior morfologia do pasto, comprometendo a eficiência de pastejo e o desempenho animal, bem como limitando o aparecimento de novos brotos na primavera subsequente. Por outro lado, períodos de diferimentos demasiadamente curtos resultam em baixa produção de forragem, que pode ser insuficiente para alimentação dos animais, mas com características qualitativas melhoradas. Assim, deve-se trabalhar com períodos de diferimento intermediários, para obtenção de forragem diferida em quantidade suficiente e com satisfatório valor nutritivo e qualidade durante a época seca do ano.

As recomendações de épocas de início e fim do período de diferimento não devem ser generalizadas, uma vez que cada região e propriedade possuem clima, solo e capins específicos. Ademais, a duração do período de diferimento deve atender também aos objetivos do pecuarista (Quadro 2).

O clima da região em que a pastagem a ser diferida se encontra é muito relevante, pois influencia o crescimento do capim e, consequentemente, a produção de forragem da pastagem. Dessa maneira, é recomendável que as médias históricas dos principais indicadores meteorológicos da região em que se trabalha sejam conhecidas, tais como temperaturas médias, máximas e mínimas mensais, umidade relativa do ar e precipitação pluvial (quantidade de chuvas) média mensal. Além disso, também é importante o registro de anomalias climáticas, como veranicos e geadas.

Alguns pesquisadores recomendam que o início do período de diferimento deve ocorrer em, no mínimo, 30 a 40 dias antes da vigência do fator climático mais limitante ao crescimento do capim (Martha Jr et al., 2003). Nesse sentido, é importante conhecer os valores de temperatura e de disponibilidade de água no solo que não limitam o crescimento dos capins.

Os valores de temperatura mínima em que não há crescimento dos capins são chamados de temperatura base inferior. Na região sudeste do Brasil, foi verificado que a temperatura média mensal de 17,0ºC corresponde à temperatura mínima média mensal de 11,0ºC, definida como limitante à produção de forragem paras os capins braquiarão e tanzânia (Pezzopane et al., 2012).

Com relação à disponibilidade de água, pode-se considerar um período como sendo de seca, com limitação de água para o crescimento do capim, quando a deficiência hídrica no solo for maior ou igual a 5 mm (Pezzopane et al., 2012).

Com base nessas informações e conhecendo-se a distribuição das chuvas e da temperatura ao longo dos meses do ano em uma determinada localidade, é possível definir o mês em que o período de diferimento deve ser iniciado, respeitando-se a orientação de que o início do período de diferimento deve ocorrer, ao menos, com cerca de 30 a 40 dias antes da vigência do fator climático mais limitante ao capim (Martha Jr et al., 2003).

 

Referências bibliográficas:

 MARTHA JÚNIOR, G.B.; BARIONE, L.G.; VILELA, L.; BARCELLOS, A.O. Uso de pastagem diferida no Cerrado. Planaltina, DF: Embrapa Cerrados, 2003. (Embrapa Cerrados. Documentos, 102).

PEZZOPANE, J.R.M.; SANTOS, P.M.; BETTIOL, G.M.; BOSI, C.; PETINARI, I.B. Zoneamento de aptidão climática para os capins marandu e tanzânia na região sudeste do Brasil. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2012b. (Embrapa Pecuária Sudeste. Documentos, 108).

Deixe um comentário

Seu email não será publicado.