Por Cássio Rodrigues e Marcus Prado
Exagro Consultoria
A pecuária moderna está em constante busca por métodos que otimizem a produção e maximizem os lucros. Uma estratégia que tem se destacado por sua capacidade de acelerar a fase de recria e impulsionar os resultados é a Recria Intensiva a Pasto, ou simplesmente RIP. Mas o que exatamente significa essa abordagem e como ela pode transformar sua fazenda?
O que é a Recria Intensiva a Pasto (RIP)?
A RIP é uma estratégia que visa intensificar a fase de recria de bovinos diretamente no pasto, através de um aporte nutricional elevado. Diferente de sistemas que focam apenas no aumento da taxa de lotação por meio de adubação ou irrigação, a RIP enfatiza a suplementação com ração concentrada para elevar o ganho de peso dos animais na fase de recria.
Na prática, isso significa que os animais permanecem a pasto, mas recebem uma quantidade significativa de ração (concentrado). Esse consumo adicional de ração permite que eles dependam menos do pasto, o que, por sua vez, possibilita colocar mais animais na mesma área, aumentando a taxa de lotação.
Benefícios Chave da RIP para sua Produção
A implementação da RIP traz vantagens significativas para a sua operação:
- Aceleração do Ganho de Peso: A suplementação concentrada proporciona um ganho de peso muito maior do que em sistemas de pasto convencional ou com suplementação mineral básica. Pesquisas mostram médias para animais machos de 750g/dia no período seco e próximo de 1kg/dia no período das águas.
- Redução do Período de Recria: Um dos maiores diferenciais da RIP é a capacidade de diminuir drasticamente o tempo que o animal permanece na fase de recria. Em vez de 12 a 20 meses, a RIP pode levar o animal a produzir 7 arrobas em cerca de 7 a 7,5 meses (aproximadamente 225 dias), permitindo que ele esteja pronto para a terminação (confinamento ou TIP) mais cedo. Isso significa um ciclo de desmama ao abate em 12 meses.
- Aumento da Taxa de Lotação: Com o animal consumindo mais ração, ele demanda menos pasto. Isso libera capacidade de suporte da pastagem, permitindo que você coloque mais animais por hectare, diluindo custos fixos e aumentando a produtividade por área.
- Melhora no Desempenho em Condições Adversas: Mesmo em pastos mais baixos (15 cm), o uso de suplemento proteico-energético pode elevar o ganho de peso significativamente (de 500g para 800g em experimentos), mostrando o impacto positivo da nutrição na compensação da menor disponibilidade de forragem.
Pilares para o Sucesso da RIP
Para que a RIP realmente traga os resultados esperados, alguns pontos são fundamentais:
- Manejo de Pastagem: Apesar da suplementação, o manejo da pastagem é crucial. É necessário ter oferta de forragem de qualidade tanto na época das águas quanto na seca. A RIP parte do princípio de que a fazenda já realiza um bom manejo de pasto.
- Dieta Adequada e Crescente: A ração não é “qualquer uma”. O objetivo na recria é o crescimento e a produção de carcaça, não o acúmulo de gordura. Dietas com excesso de energia (milho/sorgo) podem fazer o animal engordar prematuramente (“virar um bolinha”), limitando seu crescimento futuro. O aporte nutricional deve ser crescente ao longo da vida do animal; não é recomendado reduzir drasticamente a suplementação após a RIP, mesmo no período das águas. Consultar um nutricionista é essencial para definir a dieta correta.
- Genética dos Animais: Para obter ganhos de peso próximos a 1 kg/dia, é importante trabalhar com animais de boa genética e peso adequado.
- Análise Econômica Constante: A RIP é sensível aos custos da ração e aos valores de compra e venda dos animais. É fundamental monitorar:
- Custo da Ração: Uma ração de R$1/kg ou menos é mais favorável do que uma de R$3/kg.
- Preço de Compra do Animal: O valor do bezerro influencia diretamente a rentabilidade.
- Preço de Venda da Arroba: Variações no preço da arroba impactam diretamente o resultado por cabeça e o ROI.
- Retorno sobre o Investimento (ROI): Em cenários favoráveis, com 4-5 cabeças por hectare e boa relação custo/preço, as margens de lucro podem chegar a 15-25%. No entanto, em cenários desfavoráveis (custo alto de ração e arroba baixa), a operação pode dar prejuízo.
RIP: Uma Ferramenta, Não um Sistema de Produção
É crucial entender que a RIP é uma ferramenta, uma alternativa, e não deve ser o único sistema de produção da fazenda. A pecuária é tomadora de preço e a flexibilidade é vital. Se as contas não estiverem favoráveis, o produtor precisa ter a capacidade de desacelerar, reduzir o número de animais e ajustar o sistema para outro modelo. O Brasil, com sua diversidade de sistemas, oferece essa flexibilidade.
A Recria Intensiva a Pasto é uma estratégia poderosa para quem busca acelerar resultados, otimizar o uso da área e aumentar a rentabilidade. Contudo, exige conhecimento técnico, bom manejo de pastagem e acompanhamento rigoroso dos custos e do mercado para ser implementada com sucesso.
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