Bárbara Andrade
Estagiária Exagro
A integração lavoura-pecuária (ILP) é uma estratégia agrícola que visa combinar a produção de culturas agrícolas com a produção de bovinos, de forma sustentável e sinérgica. Uma das facetas importantes da ILP é a produção de forragem na entressafra, que é o período entre a colheita das culturas agrícolas e o plantio subsequente. Essa prática traz diversos benefícios econômicos e ambientais, contribuindo para o aumento da produtividade com qualidade e a conservação dos recursos naturais.
Quando o sistema é adotado tanto por pecuaristas quanto por agricultores, desempenha um papel crucial na revitalização de pastagens degradadas, na otimização do desempenho das culturas de grãos e no fortalecimento das forragens do primeiro ano, resultando em uma renda mais estável. Em virtude desses benefícios, a prática da ILP não apenas beneficia diretamente os envolvidos, mas também estimula o desenvolvimento tanto a nível local quanto regional.
A implementação da integração lavoura-pecuária (ILP) pode ser realizada de diversas formas, adaptando-se às necessidades e condições específicas de cada propriedade agrícola. Uma abordagem comum envolve a rotação de culturas agrícolas e a criação de gado em uma mesma área. Isso pode ser feito alternando a utilização da terra para o cultivo de grãos, como soja ou milho, com a produção de forragem para o gado, geralmente composta por gramíneas. Além da utilização do plantio direto, onde a palhada deixada pela colheita anterior das culturas agrícolas serve como cobertura para o solo, conservando a microbiota ali presente e também contribuindo para a alimentação do gado durante a entressafra.
O sistema também pode ser implementado em sistemas agroflorestais, onde árvores são integradas para fornecer sombra, madeira e outras vantagens adicionais. As formas de implementar a ILP variam de acordo com os objetivos do agricultor, o tipo de culturas e animais envolvidos, bem como as características da região agrícola, visando sempre à maximização dos benefícios econômicos e ambientais dessa prática.
Veja um exemplo comum que é muito utilizado:
Nesse sistema de integração, adota-se uma estratégia que combina a produção de soja durante a safra com a produção de pasto para o gado durante a entressafra, permitindo que o rebanho supere os desafios da sazonalidade de forragem. O período chuvoso, que coincide com a safra de soja, é fundamental para o desenvolvimento desta leguminosa, já que ela é altamente influenciada pelas condições edafoclimáticas. Após a colheita da soja em fevereiro/março, a área é preparada para receber a forrageira que é semeada sobre a palhada remanescente. A partir de abril, o gado é introduzido no sistema, com ênfase nas categorias de cria, que demandam forragem de alta qualidade. Conforme avança o calendário, a partir de junho, entram no sistema as categorias de recria e engorda, e em agosto, o gado é retirado dos pastos de integração. Em setembro, a área é preparada para o plantio subsequente de soja, fechando o ciclo de maneira eficiente e sustentável.
Nesse mesmo cenário, é notável, de acordo com o relatório de massa seca de forragem do PC-SAT, uma significativa maior quantidade de material verde seco por hectare quando comparada às áreas de pastagem convencional, mesmo durante o auge do período de estiagem. Esse fenômeno é atribuído a uma gestão de solo altamente eficiente, aliada à contribuição da soja na fixação de nitrogênio. Mesmo diante das adversidades típicas do período seco, como a escassez de chuvas, temperaturas reduzidas e menor luminosidade, que desempenham um papel crucial no crescimento das forrageiras, o solo demonstrou estar em excelente condição, enriquecido em nutrientes e resguardado pela cobertura da palhada. Tais condições propiciaram a preservação da microbiota do solo e, como resultado, uma produção de forragem mais abundante, mesmo em meio à estiagem.
Observe a comparação entre as áreas no mês de junho nas figuras abaixo. No mapa as áreas circuladas em preto, são as áreas destinadas a integração lavoura-pecuária (ILP), enquanto o restante representa as áreas de pastos perenes. Na tabela, os dados numéricos referentes ao estoque de folhas e talos verdes das áreas de ILP estão destacados em verde, ao passo que as mesmas informações estão identificadas em vermelho para as áreas de pastos perenes.
Se você deseja obter mais informações sobre a avaliação da massa disponível de forragem via satélite, convido você a explorar os artigos anteriores aqui no blog “Pasto com Ciência”:
https://pastocomciencia.com.br/2021/09/22/analise-de-cobertura-vegetal-e-massa-de-forragem/
https://pastocomciencia.com.br/2021/02/18/manejo-de-pastagens-orientado-por-satelite/
Com esta comparação, torna-se evidente que a formação recente de Brachiária ruziziensis, aliada à excelente qualidade do solo, que proporciona nutrientes em abundância, desempenha um papel fundamental no aprimoramento e crescimento substancial das forrageiras, mesmo durante períodos de sazonalidade. Esse fator representa uma vantagem significativa para a produção de forragem na entressafra.
A integração entre lavoura e pecuária se destaca como uma das estratégias mais eficazes para a recuperação de terras de forma eficiente, ao mesmo tempo em que contribui para a redução dos custos relacionados à formação de pastagens. Espero que tenham gostado do texto de hoje, até a próxima postagem!
REFERÊNCIAS:
- CARDOSO, R. Braquiária é mais que pasto. O Estado de São Paulo, São Paulo, 25 dez. 2000. Suplemento Agrícola.
- DE OLIVEIRA, I. P. et al. Sistema Barreirão: recuperação/renovação de pastagens degradadas em consórcio com culturas anuais. 1996.
- KLUTHCOUSKI, João; AIDAR, Homero; COBUCCI, Tarcísio. Opções e vantagens da integração lavoura-pecuária e a produção de forragens na entressafra. 2007.
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