Bárbara Andrade
Consultora Exagro
Apesar de ser uma prática consolidada nas fazendas que adotam o sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), a formação de pastagens de inverno exige atenção a diversos fatores técnicos para garantir seu pleno estabelecimento. Como ocorre com todas as gramíneas, o sucesso da implantação depende de uma série de cuidados: escolha adequada da espécie forrageira conforme as condições edafoclimáticas, preparo eficiente do solo, controle de plantas daninhas, correção e adubação baseadas em análise de solo, além do manejo correto da semeadura. Esses fatores influenciam diretamente o valor nutritivo da forragem, a taxa de rebrota e a oferta disponível no período de entressafra, impactando o desempenho animal e a viabilidade econômica do sistema.
Dentre as diversas etapas da formação, o plantio é um ponto crítico que merece atenção especial. Já discutimos anteriormente a importância da análise de solo no texto “A Importância da Análise de Solo e Seus Principais Parâmetros”, os ganhos no aporte de forragem de qualidade (“Uso da ILP para o Aumento de Massa de Forragem de Qualidade na Entressafra”), e os desafios do sistema (“Integração Lavoura-Pecuária (ILP): Benefícios e Desafios”). Hoje, nosso foco está na semeadura e nos cuidados específicos que devem ser adotados para garantir um estande vigoroso e produtivo.
A correta deposição da semente no solo é fundamental para o sucesso da formação da pastagem. É preciso observar a profundidade ideal de plantio, que deve estar ajustada ao tamanho da semente, garantir distribuição uniforme, utilizar sementes de alta pureza e viabilidade (preferencialmente com tratamento tecnológico), e assegurar bom contato semente-solo. Além disso, é essencial observar a umidade do solo no momento da semeadura: plantios em solo seco ou encharcado tendem a ter menor taxa de germinação. A escolha do método de plantio, a lanço com posterior incorporação ou em linha com semeadora, também deve considerar os recursos disponíveis e a precisão requerida, especialmente em áreas maiores.
O preparo do solo deve ser estrategicamente planejado, indo além do simples revolvimento. Cada propriedade tem suas particularidades quanto ao tipo de solo, relevo e histórico de uso, exigindo diferentes combinações de implementos, como subsolador, arado, grades aradora e niveladora. O objetivo é promover descompactação, incorporar corretivos e deixar uma superfície uniforme, favorecendo a germinação. Em áreas onde haverá substituição da espécie forrageira, o planejamento prévio é essencial, e pode-se adotar o cultivo mínimo, uma prática conservacionista que revolve o solo apenas onde necessário, mantendo cobertura vegetal e protegendo a estrutura do solo, a umidade e a atividade biológica. Essa técnica é especialmente vantajosa para reduzir custos, melhorar a eficiência operacional e diminuir os impactos ambientais.
A semeadura pode ser feita a lanço ou em linha, sendo o plantio a lanço o mais comum em áreas com ILP por sua simplicidade e abrangência. Porém, é necessário fazer a incorporação com niveladora ou rolo compactador. Ao trabalhar com sementes pequenas, como panicuns ou estilosantes, é fundamental calibrar bem os equipamentos, já que essas sementes exigem precisão na dosagem por hectare. A profundidade também deve ser ajustada conforme a espécie: sementes pequenas demandam entre 0,5 e 2,0 cm, enquanto sementes maiores, como as das braquiárias, podem ser enterradas entre 2,0 e 4,0 cm.
Outro fator determinante para o sucesso da formação de pastagens no sistema ILP está diretamente ligado à qualidade e à quantidade
de sementes utilizadas, aspectos que devem ser avaliados com base no Valor Cultural (VC). O VC é um índice técnico que expressa o potencial real de uma semente germinar e formar plântulas normais, sendo calculado a partir da fórmula: VC = (Pureza × Germinação) / 100. A pureza representa a proporção de sementes puras em uma amostra, enquanto a germinação corresponde ao percentual dessas sementes capazes de formar plantas viáveis. Embora o teste de germinação seja o mais seguro, especialmente na presença de sementes dormentes, o teste de tetrazólio também é uma ferramenta complementar para estimar a viabilidade das sementes em menos tempo.
Sementes com baixo VC implicam em maior quantidade de material inerte como palha e solo, o que impacta negativamente o custo de transporte, o tempo de plantio e a eficiência operacional. Por isso, recomenda-se adquirir lotes com alto Valor Cultural, garantindo maior uniformidade na formação do estande e melhor aproveitamento da área semeada. Além disso, ao se trabalhar com leguminosas forrageiras, é fundamental realizar a escarificação e a inoculação antes da semeadura, práticas que melhoram a quebra de dormência e favorecem a simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio, contribuindo para a fertilidade do solo e a qualidade da forragem ofertada aos animais.
Entretanto, mesmo com a adoção criteriosa das boas práticas de preparo de solo, semeadura e escolha da semente e do período de plantio, é preciso reconhecer que fatores edafoclimáticos, como irregularidade das chuvas, temperaturas amenas ou solos com baixa retenção de umidade, podem comprometer a formação ideal do pasto na entressafra.
Nessas situações, é fundamental adotar estratégias de contingência que garantam a continuidade do desempenho do sistema produtivo. Entre as principais ações recomendadas estão: a adoção de culturas de resgate forrageiro de ciclo mais curto e alta taxa de cobertura, o uso de áreas de suplementação estratégica com volumosos conservados (como silagem ou feno previamente produzidos), além da gestão do pastejo com lotação ajustada, evitando sobrecarga nos piquetes em formação. Ainda, práticas como o escalonamento de semeadura em diferentes áreas ou a implantação de espécies forrageiras com maior tolerância a estresse hídrico podem ser incluídas no planejamento prévio, visando minimizar os impactos de falhas climáticas. Essas medidas asseguram a sustentabilidade zootécnica e econômica do sistema ILP, mesmo diante das adversidades sazonais.
Com base em tudo o que foi discutido, fica evidente que o sucesso da formação de pastagens na Integração Lavoura-Pecuária, depende de um conjunto de decisões técnicas integradas, desde o preparo adequado do solo, a escolha correta do momento de plantio, a calibração dos equipamentos, até o manejo estratégico diante de adversidades climáticas. A compreensão dos fatores que influenciam cada etapa incluindo a profundidade de semeadura, o tipo de forrageira utilizada e as condições edafoclimáticas permitem não apenas maximizar a produção de forragem na entressafra, mas também garantir estabilidade produtiva e retorno econômico ao sistema. Por isso, o planejamento técnico, aliado ao acompanhamento constante das condições do solo e do clima, deve ser prioridade para todos os produtores que buscam aproveitar ao máximo o potencial da ILP, transformando desafios em oportunidades de maior eficiência e sustentabilidade no campo.
REFÊRENCIAS:
AGRAER – Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul. Pastagens: formação. Campo Grande: AGRAER, 2015. 23 p. Disponível em: https://www.agraer.ms.gov.br/wp-content/uploads/2015/05/Pastagens_1-_Forma%C3%A7%C3%A3o.pdf.
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