Marcus Vinícius Prado Silva
Consultor Exagro
Olá pessoal. Vocês devem ter reparado que estamos falando bastante de pastagem e de medição de forragem ultimamente. Isso se deve à grande importância das medições em melhorar o manejo dos pastos de sua fazenda! De acordo com a Embrapa, 95% da carne bovina brasileira é produzida em regime de pasto e já não é novidade para vocês que o Brasil não é tão eficiente no aproveitamento de suas pastagens.
Quem já andou por diversas fazendas no país ou acompanha notícias do Agro sabe que as pastagens, na sua maior parte, estão em algum processo de degradação. São diversos motivos, como escolha inadequada da forrageira, baixa fertilidade do solo, pragas, super pastejo e um pouco de todas a causas juntas.
Se relacionarmos a área disponível para a pecuária com a baixa eficiência do uso do capim, a produção é pouca. Usando de alguns ajustes no manejo, podemos otimizar a produção de carne a pasto e mudar a conta do pecuarista.
Não é muito difícil encontrar fazendas manejando o capim mais alto, sendo a principal causa o erro de manejo. Neste caso, existe perda de desempenho e produção. Podemos observar que o capim manejado mais alto aumenta a proporção de talos em relação a folha e, neste caso, perdemos por qualidade nutricional da forragem, por tombamento e pisoteio, além de limitarmos o ganho por área. Em resumo, se coloca menos boi e produz menos @/hectare.
E aí então aparece o maior desafio: como manejar os pastos, sendo que eles não podem degradar e tem que produzir bem?
Com essa pergunta, precisamos levantar alguns parâmetros para respondê-la.
- Como descubro qual o suporte da pastagem?
Já estamos passando da época de estimar o suporte das pastagens “no olho” ou “eu acho”. Comparando a pecuária com processo industrial, o pasto é uma matéria prima, ou seja, precisamos dele para gerar o produto que será vendido, a carne. Neste caso, é muito importante ter o controle do estoque de forragem em mãos. E aqui entra o parâmetro medição de forragem. Quando começamos a medir a altura de entrada e saída dos pastos, algo simples de se fazer (o que não descarta capacitação do responsável), temos um ótimo indicador de manejo. Se a altura do pasto não está compatível com a projetada e desejada para o momento do ano, acende o farol amarelo! Se o capim está mais alto, está sobrando e a taxa de lotação está abaixo do suporte. Se o capim está mais baixo, deve-se reduzir a taxa de lotação.
Tudo bem até aqui? Porém, com a informação da medição de alturas, nós só estamos monitorando o pastejo, uma etapa muito importante e que deverá fazer parte da rotina da fazenda. Olhando mais a fundo para os números coletados, começamos a descobrir o suporte! Se ainda não descobriu como, veja: a diferença entre a altura de saída e a nova altura de entrada do capim, gera o valor do tanto que o capim cresceu em centímetros. Se dividir pelo período de descanso em dias, temos o crescimento diário.
Veja a imagem abaixo:
Existe também um indicador chamado Densidade do capim. A densidade é quantos quilogramas de capim temos por centímetro e por hectare do nosso pasto.
Caso queira aprender a coletar a densidade do seu pasto, veja a publicação abaixo:
Multiplicando a densidade do capim pelo valor de crescimento em centímetro por dia, encontramos a taxa de acúmulo diária em matéria seca (MS) do capim.
Veja o exemplo: 0,5 cm/dia x 90 kg de densidade = 45 kg de MS/ha /dia
Na tabela abaixo temos dados de uma propriedade:
Mudando a tabela para um gráfico, visualizamos a distribuição do acúmulo de forragem mensal:
Verificamos que a forrageira, nesta fazenda, tem o aumento da produção de forragem em outubro e a queda na produção a partir de março. Se o objetivo for manejar bem os pastos nas águas e aliviar a lotação na seca, a fazenda deve aumentar a lotação em outubro e reduzir em abril. Dessa forma, conseguirá manejar os pastos impedindo que ele passe do ponto ideal de manejo. E neste caso, aparece aqui a terceira pergunta:
- Quantos animais eu posso colocar para impedir que o capim passe do ponto ideal de pastejo?
Chegamos na parte interessante da conversa e onde devemos ter mais atenção. Vamos evitar em sugerir lotações fixas de 1 UA ou 2 UAs nas águas. Se soubermos qual massa de forragem temos nas pastagens, iremos orientar o manejo conforme a oferta de forragem desejada para cada lote de animais.
A oferta de forragem (OF) é um valor relativo que busca expressar a quantidade de forragem disponível para os animais e é dada em kg de matéria seca de forragem para cada 100 kg de peso corporal (Pedreira, 2002).
Por exemplo: deseja-se ofertar 15 Kg de MS para 100 Kg de peso corporal (PC). O peso médio do rebanho é 450 Kg. Logo, fazendo a correlação: 450 ÷ 100 × 15 = 67,5 kg de forragem a ser ofertada para esse animal por dia.
Se temos, por exemplo um estoque de forragem de 1.800 Kg de MS/ha, podemos resumir que, por dia, nosso estoque de forragem disponível para ser ofertado é de 60 Kg de MS/ha (1.800 Kg de MS dividido por 30 dias).
Dividindo 60 Kg de MS ofertado por dia pela demanda de 67,5 kg de MS/dia, devemos colocar 0,89 animais de 450 Kg por hectare (60 Kg oferta ÷ 67,5 Kg de demanda = 0,89 cabeças de 450kg).
Se a oferta de forragem for menor, de 10 Kg de MS para cada 100kg de peso corporal, deve-se colocar 1,33 cabeças de 450 Kg por hectare (60 Kg de MS disponível por dia ÷ 45 kg de demanda por animal = 1,33 cabeças de 450kg).
Vamos a uma simulação com os dados acima em um rotacionado de 40 hectares, para conhecermos o suporte em cabeças para cada grau de oferta:
Note que diferentes ofertas provocam diferentes suportes.
No caso 1 a lotação é de 401 Kg de PC por hectare. Já no caso 2, a lotação é de 600 Kg de PC por hectare. Para se chegar nessa conta, basta multiplicar o número de cabeças/hectare pelo peso médio dos animais.
O que podemos esperar destas duas ofertas e diferentes lotações:
- No aspecto animal:
O fato de ofertar mais significa que permitimos que os animais tenham maior oportunidade de escolha da forragem antes de ingerir. Sendo assim, o desempenho individual tende a ser melhor. Porém, se a oferta for muito alta, o capim passa do ponto ideal de manejo e aumenta a relação de colmo, senescência e perde qualidade, o que limita o desempenho individual.
Quando reduzimos a oferta de forragem, aumentamos a competição pelo capim e a tendência é que o ganho de peso individual seja menor.
- No aspecto área:
Para ofertar mais forragem, devemos colocar menos animais na área. Mesmo que o ganho de peso seja bom por cabeça, poucos animais no pasto podem gerar pequenos ganhos por área.
Quando colocamos mais cabeças por área, mesmo que o ganho de peso seja menor, podemos ter maior produção de @/hectare. Por outro lado, colocar animais além do suporte, ou seja, manter oferta muito baixa, pode ter ganho de peso tão baixo que a produção por área pode ficar baixa e aumentar o risco de degradação do seu pasto.
Vamos ao exemplo:
Caso 1: 0,89 cabeças e ganho médio de 0,850 kg/dia em 180 dias = produção de 4,54@/ha.
Caso 2: 1,33 cabeças e ganho médio de 0,650 kg/dia em 180 dias= produção de 5,18@/ha.
- O ponto ótimo:
Abaixo temos a curva de Mott, representando graficamente o ponto ótimo de oferta de forragem. Existe um ponto de lotação que não chega a provocar sub pastejo, nem super pastejo, aonde o ganho de peso por animal e por área chega em um ponto ótimo.
Mesmo assim, qual a oferta ótima:
As pesquisas são antigas, desde 1986, o Departamento de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia (DPFA) vem desenvolvendo um modelo que envolve a OF e produção animal, buscando encontrar o ponto ótimo entre animais e ganho por hectare (Maraschin, 1998). Até o momento, no que foi encontrado, os melhores resultados aparecem quando as ofertas variam de 11,5 (kg de MS/100 kg de PC/dia) e 13,5 (kg de MS/100 kg de PC).
E a equipe do pasto com ciência também está em busca de encontrar este ponto ótimo e auxiliar a pecuária brasileira a mudar de patamar.
Em breve vamos publicar caso reais de como o Pasto com Ciência tem auxiliado nos resultados das fazendas.
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